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Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento? No fim, tornaremos a crimidéia literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido e cada significado subsidiário eliminado, esquecido. […]
Como será possível dizer “liberdade é escravidão” se for abolido o conceito de liberdade? Todo o mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos. [George Orwell, 1984, apud Mídia Sem Máscara]
Fonte: http://januacoeli.wordpress.com/2009/01/16/a-novilingua-gay/
Big Brother é um sistema lógico que domina o megabloco da Oceania, onde trabalha Winston Smith, ligado ao Partido Único IngSoc. Sendo funcionário do Ministério da Verdade, a função dele é a de reescrever dados na conformidade do que rege o Partido. Tais argumentos estão no livro 1984, escrito por George Orwell em 1949. O Grande Irmão a tudo fiscaliza e é esse megasistema que informa quais os que podem afrontar o IngSoc. O livro famoso de Orwell, que cria a novilíngua, é um marco contra a tirania e deveria ser lido por quem se interessa por questões como liberdade, totalitarismo, ideologia, etc.
Big Brother é um programa da Endemol/Globo, cujo objetivo é colocar pessoas lindas, saradas, de preferência que gostem de exposição, que tenham facilidade em formar grupelhos, grupos, allianças e que não se incomodem absolutamente com nada, a não ser com o fato de que o vencedor ganhará um milhão de reais. Então, a partir daí é criado todo um texto de novela, embora os fatos sejam reais. Toda a construção do programa, onde as pessoas ficam confinadas em uma casa que é mudada de edição para edição (essa é a nona) se resume a três fatos: (1) ver quem irá ganhar o prêmio; (2) ver como as pessoas se comportam em grupo e individualmente e (3) exercer o voyeurismo.
Muito, mas muito diferentemente do livro de Orwell, onde o tema principal é uma tensão permanente entre liberdade e totalitarismo, entre atitudes que confrontam a ética e o controle, entre individualismo e massificação, no Big Brother da Endemol/Globo temos uma linha construtiva que irá se basear nos atos de voyeurismo institucionalizado, onde o erotismo permeia do início ao fim, com algumas grandiloqüências vazias e desesperos editados durante 24 horas, mas só para quem tem pay per view, claro. A massa fica com o programa noturno e algumas insersões durante a programação diária.
Durante as edições do Big Brother Brasil tivemos praticamente de tudo. É um programa de espia, no qual podemos avistar coxas, seios, suaves olhares, desejos e altas manipulações. Afinal, alguém controla a ilha de edição, mesmo porque se tudofosse mostrado, provavelmente o interesse seria perdido. Não há novela que suporte as idiossincrasias e especialmente as rotinas do dia-a-dia. BBB também sempre deixa um gancho para o dia seguinte, afinal um programa que vá diariamente para a TV durante três meses necessita criar um factóide todo dia.
Dentro desse mundo de entretenimento e de frivolidade, algo do comportamento humano pode ser analisado, se considerarmos as edições do programa. No entanto isso tem de ficar muito claro: que tudo é editado, pasteurizado e servido como papinha para alimentar os desejos de espectadores passivos, às vezes nem tão interessados nas articulações do programa, mas sim em seu caráter visual.
Destaque para o programa é a atuação de Pedro Bial, que vive chamando a casa do BBB de nave, os participantes de heróise cometendo textos em que a adjetivação e o senso-comum tem lugar absolutamente garantido. A pieguice domina o texto, mas, se formos avaliar ao que o programa se propõe, provavelmente é esse mix macarrônico de coisa alguma que os espectadores gostamou queremouvir, ou seja, um novelão erótico e frugal, sem um pingo de contato com a realidade. No BBB praticamente nenhum dos participantes (com raras excessões) fala sobre cinema, artes, política, cidades, educação, dinheiro, trânsito ou qualquer coisa que faça refletir. Exceto poucas excessões, contadas nos dedos de apenas uma das mãos, nenhum dos “brothers” tem opinião ou argumento sobre coisa alguma, a não ser para a intriga, os menoscasos, os fuxicos e as intenções de pegação dentro da casa. Invariavelmente as mais gostosas irão receber convites para poses em alguma revista masculina, o que aumenta ainda mais uma libido pré-fabricada.
E assim Orwell encontrará em Pedro Bial um criador de novilíngua, pela qual o sistema totalitário de 1984 pretendia suprimir e modificar palavras com o fim de controlar pensamentos. O âncora, ao invés de suprimir/modificar, apela para a mesmice intelectiva, propondo, de certo modo, a obliteração do néo-cortex, ao infundir uma linha de texto na qual o substantivo herói, por exemplo, é confundido com participante. Se você ingressar no BBB, será um herói, independentemente de qualquer fato passado em sua vida. Passados alguns meses ninguém se recordará de quem você, herói tão conhecido, é, mas isso faz parte do mundo lascivo, egóico, consumista e non sense do BBB.
Contudo BBB tem um interesse notável, mas este reside não nas indas e vindas do programa, mas no que ele revela, especialmente nas áreas de sociologia, comunicação e educação. Na última, dentro do que se denomina de pedagogia social. Nesse sentido, BBB é bastante útil pois suas mensagens, postas em ambiente televisivo e que acabam por trazer a lume várias situações instigantes, entre as quais de como uma mensagem pode ser passada para públicos absolutamente heterogêneos e que vivem culturas diferentes. Como será que um adolescente percebe o BBB? E qual será a leitura do programa em nível educativo? Mesmo que se apontem negatividades, mesmo essas devem ser investigadas. Há, portanto, múltiplas possibilidades de se abordar o BBB, o que não é uma vantagem somente sua.
De qualquer modo, Orwell talvez não parasse para ver BBB mas, sem dúvida, se espantaria com a micro concretização de um de seus livros mais famosos, 1984. Como diz a Rede Globo, a gente se vê por aqui. HILTON BESNOS
A COMUNICAÇÃO SUBLIMINAR DO REALITY SHOW: UM ENSAIO SOBRE O “BIG BROTHER BRASIL”
Efraim Queller de Souza1
Adriana Sartório Ricco2
Resumo
Esse artigo traz uma reflexão sobre as mensagens subliminares do conteúdo televisivo do reality show, com um foco especial no programa Big Brother Brasil. Tem como objetivo analisar as possíveis influências do programa na sociedade. Em sua metodologia, trata-se de um estudo de caráter exploratório, utilizando-se em seu delineamento fontes bibliográficas e documentais. O resultado é a constatação de que o programa em questão tem forte poder de influência e persuasão sobre o comportamento social.
Palavras-chave: Comunicação. Mensagem Subliminar. BBB. Reality Show.
1 INTRODUÇÃO
A mídia televisiva hoje está dominada pelos Reality Shows. Esta febre teve início nos Estados Unidos e se propagou pelo mundo, ganhando força quando a interatividade somou-se a tramas de vidas e casos reais, atraindo olhares curiosos e prendendo a atenção de bilhões de espectadores.
O Reality Show é um programa que diferencia-se dos demais pela inclusão do “real” na TV, onde se tem a impressão de que tudo é fictício e lúdico (com exceção dos informativos). Estes programas trazem como proposta uma realidade que se aplica a diversos segmentos, de acordo com o público ao qual são dirigidos, podendo ser classificados como disputas, desafios, confinamentos, quiz e outros.
No início de 2000, chega ao Brasil o “Big Brother Brasil”, programa no formato do Big Brother original, criado e patenteado pela Endemol (Holanda). No programa o cenário é uma casa onde são colocadas pessoas de diferentes perfis e desconhecidas do grande público em confinamento total, onde o desafio é permanecer até o final sem ser eliminado pelo público que decide quem sai e quem fica.
Atualmente o programa é recorde de audiência e destaque em outras mídias como jornais e revistas. Os desconhecidos que ali entram saem do anonimato e perdem sua privacidade em troca dos seus minutos, ou melhor, meses de fama. Esta popularidade causa fascínio no público, que passa a se espelhar nas atitudes e comportamento destas pessoas que estão em tão grande evidência. O programa passa assim, a exercer função propagadora de usos, costumes, comportamentos e muito mais.
Traremos aqui um levantamento de dados que tentam responder a seguinte indagação: Qual a influência do conteúdo subliminar do Reality show “Big Brother Brasil” na sociedade?
O objetivo deste artigo é trazer as causas e efeitos que um conteúdo mal disposto ou veiculado de forma incorreta pode acarretar na sociedade, visando o aprendizado de uma filtragem para melhor aproveitamento de qualquer programa de TV.
2 TV E MENSAGEM SUBLIMINAR
A televisão é, desde sua criação, considerada uma das maiores invenções da humanidade. A caixa mágica capaz de transmitir imagens e sons sempre despertou fascínio. Embora hoje contemos com tecnologia de ponta e tenhamos ao nosso dispor diversos meios de comunicação massiva, a televisão não deixou de ter seu papel fundamental na vida de homens, mulheres e crianças, nem com a praticidade e velocidade da internet.
Quando falamos em televisão, diversos podem ser os assuntos a se ligar com o termo. Quando se pergunta para as pessoas porque assistem à televisão ou por que vêem determinado programa, costumam dar respostas vagas, pouco precisas como: “porque gosto”, “porque me interessa”, “porque é divertido, “porque distrai”, “porque me acostumei”. Na verdade, a TV exerce sobre a sociedade um papel muito maior que estes acima citados, e o papel mais importante e ironicamente menos lembrado é o de socializador.
“A maior parte dos telespectadores não é consciente dos motivos pelos quais a televisão a atrai” (FERRÉS, 1998, p.91). O dia a dia das pessoas está tomado por informações e conteúdos televisivos e dificilmente uma pessoa que acompanha os acontecimentos do mundo por outros meios que não a TV, compartilha do mesmo ponto de vista da maioria. Mais que informar e entreter, a TV seduz e, ficção ou realidade, o que nela se passa é tido ludicamente como verdade dita ou imaginada.
Imperceptivelmente, tomamos atitudes baseadas no que vemos e vivemos, a TV nos traz influências diretas e indiretas de comportamento, opinião, valores, dentre muitos. As diretas são as tendências de moda, estilo de vida e comportamento que estão explicitas em conteúdos de programas, novelas, filmes, etc. Já as indiretas são aquelas que estão em segundo plano, feitas para não serem notadas, mas que ficam registradas no nosso inconsciente. Este tipo de mensagem recebe o nome de subliminar.
Segundo Flávio Calazans, autor do livro Propaganda subliminar multimídia (1992) e estudioso conceituado no assunto, o conceito de subliminar está definido como qualquer estímulo abaixo do limiar da consciência, estímulo que – não obstante – produz efeitos na atividade psíquica.
O termo subliminar tem sido muitas vezes utilizado de forma incorreta, com uma conotação de algo negativo (maligno) ocultado, quando na verdade, é todo estímulo não percebido, porém captado pelo cérebro e armazenado no campo do subconsciente latente. O conteúdo que sonhamos geralmente é proveniente deste subconsciente, prova de que não só o que focamos em primeiro plano é registrado por nós.
A técnica de inserção subliminar proposital teve início no cinema por volta de 1956, com a experiência Vicarysta de inserção de frames de 36/1 segundos de propaganda durante a exibição do filme. Na TV, podemos considerar que as inserções subliminares tiveram início com a introdução do merchandising. A técnica de merchandising não é considerada subliminar, porém é importante citá-la, pois a sua intenção é a de comunicar uma marca ou produto de forma a não se perceber a tentativa de persuasão.
A televisão subliminar é aquela que comunica invisivelmente, seduz despercebidamente, mesmo não sendo proposital. O subliminar pode estar contido tanto nas ações de uma personagem secundária e sem importância, como na atitude de um protagonista.
A maior parte dos espectadores não é consciente, enquanto assistem ao filme, do quando demonstram ser frágeis suas convicções quando são manipulados desde a emotividade. O triunfo na tentativa sedutora de uns personagens ou outros supõe o triunfo da ética que representam uns e outros. Ao acabar o filme, sem tê-lo advertido, o espectador foi emotiva e eticamente pego tanto pelo bem como pelo mal (FERRÉS, 1998, p.75).
O subliminar não pode assim, ser definido como bom ou ruim, bem ou mal. Joan Ferrés defende em seu livro Televisão subliminar – Socializando através de mídias despercebidas (1998), que se bem utilizada a mensagem subliminar pode servir para socialização do indivíduo que possui algum bloqueio ou resistência às regras do coletivo, tornando-se ferramenta imperceptível de convencimento.
3 O FENÔMENO DO REALITY SHOW “BIG BROTHER BRASIL”
Segundo Vanessa Curvelo em seu artigo Big Brother Brasil – realidades espetaculares (2002), estão enquadrados em um novo gênero televisivo definido como reality-show, os programas que envolvem veiculação de imagens de pessoas confinadas em uma casa, ou de uma disputa por “sobrevivência” em ambientes hostis, transmissão de competições por fama, promoção de um concurso onde casais têm sua fidelidade posta à prova por modelos contratados, e outras novas formas. Tendo esse tipo de programa televisivo chegado a vários países, gerando críticas acerca da privacidade ou de possíveis tendências voyeristas de telespectadores, como também a respeito de implicações pedagógicas, começa-se a discutir essa forma de produto televisivo e seu espaço na programação diária das emissoras de televisão.
No final da década de 90, o Brasil se viu invadido por esta tendência televisiva. O programa dominical “No limite”, exibido pela Rede Globo de comunicações foi um dos pioneiros, mas o gênero só teve destaque em 2000, com a chegada do Big Brother Brasil, programa no formato da produtora holandesa Endemol, que alcançou recordes de audiência e destaque na mídia.
A aceitação, por parte do participante, da apropriação, da livre edição e veiculação de qualquer imagem sua, a critério da emissora, é a condição para entrar no concurso e tentar obter um atraente prêmio em dinheiro instituído pela Rede Globo: um milhão de reais.
As imagens da convivência na casa montada pela emissora são editadas e veiculadas diariamente, com duração variada, indo de flashes de poucos minutos (ao vivo) até programas de mais de uma hora de duração com a interferência de apresentadores. Os participantes do Big Brother, durante o período de duração do programa, passam por testes (provas que a emissora sugere para a obtenção de alimentos extras e outras premiações) além de dificuldades derivadas da convivência e da impossibilidade de se comunicarem fora do círculo de pessoas participantes. São submetidos a diferentes situações e uma delas é o comportamento dos participantes diante de relacionamentos conflituosos.
Cada participante deve aceitar as regras desse contrato: a permanência na casa sob as determinações da emissora de TV (o uso de aparelhos celulares, internet e o acesso a informações externas são proibidos), a apropriação, a divulgação e manipulação de todas as imagens gravadas no decorrer do Big Brother, além da adequação à possibilidade de exploração da imagem pela rede de televisão após o término do programa. Essa aceitação tem por objetivo final ganhar o prêmio máximo, além da possibilidade de reconhecimento público (“fama”), pela participação no programa, embora os participantes não sejam artistas ou pessoas com algum feito digno de reconhecimento público. Por parte da emissora, por sua vez, há o comprometimento de pagar o prêmio em dinheiro. Sobre o espaço que o programa teve na mídia, Curvelo (2002, p.03) afirma que:
Por ter objetivos de ordem econômica, visto que se trata de uma empresa com fins lucrativos, e por sua gramática, que lhe dita formatos e gerencia suas formas, a emissora que exibe o Big Brother Brasil promove uma exploração do texto-programa sob diversas
formas. Essa promoção do programa envolve diferentes espaços midiáticos pertencentes à Rede Globo, além daqueles dedicados ao programa na grade de programação, uma vez que há interferências em outros programas, na forma de matérias sobre o Big Brother Brasil promovidas por outros espaços na emissora: Vídeo show, Domingão do Faustão, Fantástico, bem como todas as ações possibilitadas pelo website da empresa emissora. Isso cria todo um universo simbólico em torno do programa que se configura como uma promoção do próprio produto televisivo.
Esta ação de propagação dos efeitos do programa teve efeito positivo para emissora e sua ação expandida até por outras emissoras, já que “Big Brother” era o assunto que o público queria saber. Temos assim uma exposição excessiva de um conteúdo que na verdade não acrescentava valor social algum, uma ferramenta de conscientização de massa que, inteligentemente criado, não tinha proveito algum psicológico ou cultural.
Ferrés e Calazans são unânimes em defender que desde a popularização da TV, a programação televisiva tem alto percentual de participação da socialização, e os efeitos são maximizados no público infanto-juvenil, que absorve e guarda com mais facilidade mídias áudio visuais.
4 A INFLUÊNCIA DOS REALITY SHOWS NA SOCIEDADE
Por ser um programa de grande audiência, o Big Brother Brasil possui alto poder de influência sobre a nação de telespectadores. O sucesso com o público é tão grande que o programa gera até mídia espontânea, ou seja, outros programas, inclusive de outras emissoras, divulgam e noticiam o que ocorre dentro da casa de confinamento.
Não mais anônimos, os integrantes do jogo se tornam celebridades igualadas a estrelas do espetáculo das artes cênicas ou da música. O interessante disto é que eles não fazem nada além de conviver com os demais. Só o fato de estar em evidência faz com que se tornem notícia e gera no público o interesse repentino na vida do participante.
Sobre o fascínio que as estrelas despertam no público, Ferres (1998, p.115) afirma que:
As estrelas são uma demonstração inequívoca do caráter metonímico da sedução. Desde o adormecimento da realidade mediante a fragmentação, o ocultamento das dimensões negativas e o ofuscamento que produzem as positivas. Desde o fascínio, mediante os processos de transferência a partir das dimensões positivas que foram isoladas o seduzido constrói uma nova realidade, uma realidade ideal que pouco tem que ver com a primeira.
Para o telespectador a imagem estereotipada de uma celebridade é transferida automaticamente para os participantes, que por sua vez, não vislumbram o poder persuasivo que tem, e agem esquecidos que além das grandes ações que realizam na casa, os pequenos detalhes cometidos também são captados. Desta forma o espectador pensa ignorar o negativo e filtrar apenas o positivo, o que é um grande equívoco.
Mas que comportamento nocivo um cidadão pode ter dentro de um programa como este? Na verdade o que trazemos para este artigo não é um alerta moral sobre o reality em questão, mas sim um levantamento de dados embasados em obras reconhecidas cientificamente que, comparados a realidade atual prova que o programa como qualquer outra mídia tem sim poder de persuasão, mas que diferente delas, apresenta conteúdos sem pré-filtragem do que é exibido. Este tipo de poder possibilita uma mudança no comportamento social e tal poder está entregue na mão de pessoas que, sem preparação ou indiferentes às conseqüências, agem com objetivos individuais, se mostrando fúteis e vazios.
O programa que já está em sua sétima edição, raramente exibe algo que colabore com a sociedade e ao contrário, tem reforçado a diferença entre as classes e o culto ao corpo, estereotipando e ditando padrões de beleza. Todo o conteúdo é passado de forma simples e natural, como se fizesse parte da vida de todo mundo. A falta de privacidade acaba trazendo à tela de uma família, conteúdos que tem apelo sexual ou conotação erótica. Problema nenhum teria isto se o programa tivesse como público principal apenas adultos, o que não acontece, pois o Big Brother também é assistido pelo público infanto-juvenil e até direcionado para ele.
Atualmente é comum casos de frustrações entre jovens de 13 a 20 anos que dominados por este tipo de conteúdo, se submetem a rituais patológicos como a bulimia nervosa. Na primeira edição do Big Brother a participante “Leka”, empresária e promotora de eventos, teve seu problema divulgado em rede nacional, porém nenhuma campanha contra bulimia ou doenças semelhantes foi levantada à época, nem pela emissora, nem por nenhum outro veículo de comunicação.
Muitos outros conteúdos já foram foco no programa como: racismo, sexo livre, bigamia, homossexualidade, etc. Todos estes tiveram seus efeitos minimizados quando deveriam ter sido maximizados e abertos a discussão e vice versa.
Além do conteúdo gerado pelas situações ocorridas na própria casa pelos participantes, quadros complementares de humor feitos em desenho satirizam e ampliam conflitos, manipulando a mente do telespectador a fazer um julgamento às vezes errado, de atitudes tomadas pelos participantes. Esta manipulação indireta e subjetiva é o que aqui consideramos subliminar, ou seja, uma mensagem que imperceptivelmente influencia e convence o seu receptor.
Segundo Calazans (1992) uma população exposta a subliminares, teleguiada, que se veste, comporta-se, consome produtos, serviços, crenças, religiões, ideologias e vota em eleições levada por sugestões externas, subliminares, não pode ser considerada autônoma.
Tal colocação pode parecer exagerada, mas os autores citados indicam o contrário. Sérias pesquisas de grande porte, patrocinadas por multinacionais com verbas absurdas e alta tecnologia empregada, também são um sinal da importância dada aos subliminares.
5 CONCLUSÃO
Este artigo trouxe à discussão a importância do conteúdo exibido na televisão, principalmente do conteúdo subliminar e de suas influências imperceptíveis. O programa Big Brother Brasil foi estudado devido a sua repercussão, já que é o programa de maior audiência no Brasil. Analisamos também a influência que as mensagens subliminares exibidas pelo programa têm sobre o contexto psíco-social, visando contribuir para um melhor aproveitamento desta ferramenta tão preciosa para a comunicação, a televisão.
O assunto está longe de ser esgotado, pois é carente de conhecimento e exige maior aprofundamento, reflexão e pesquisa. Portanto, tal discussão torna-se relevante especialmente para os profissionais da área de comunicação, já que são os principais responsáveis pelo que se vê, ouve e consecutivamente pelo que se pensa. Não quisemos aqui jamais censurar o direito da liberdade de expressão, mas sim provocar a reflexão sobre a responsabilidade de inibir ou manipular a opinião alheia de forma inconsciente, para que possamos ter na TV não apenas um veículo de diversão e entretecimento, mas também um veículo de formação e socialização.
REFERÊNCIAS
CALAZANS, Flavio. Propaganda subliminar multimídia. 5.ed. São Paulo: Summus Editorial, 1992.
CURVELLO, Vanessa. Big Brother Brasil: Realidades espectacularizadas. Artigo Científico. Disponível em:http://www.bocc.ubi.pt/pag/curvello-vanessa-realidades-espetacularizadas.pdf. Acesso em 05 mai. 2007.
FERRÉS, Joan. Televisão subliminar: socializando através de comunicações despercebidas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
1 Estudante de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Faculdade Estácio de Sá de Vitória.
2 Mestranda em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade de São Marcos e professora do Curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá de Vitória.
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