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17
Ago15

A arte de Laurie Lipton

por Hilton Besnos

A ARTE DE LAURIE LIPTON

Americana e radicada em Londres, Laurie Lipton é uma artista plástica contemporânea, suas obras contestam o mundo moderno, abrindo espaço para o terror e o existencialismo que nos assola. Seus desenhos são feitos principalmente a lápis, o que resulta nas cores preto, brando e cinza, que segundo ela, “são as cores das fotografias antigas e antigos programas de TV, cores de fantasmas, saudade, passagem do tempo, memória e loucura”.

 

LAURIE-LIPTON.jpg

Americana e radicada em Londres, Laurie Lipton é uma artista plástica contemporânea, suas obras contestam o mundo moderno, abrindo espaço para o terror e o existencialismo que nos assola. Ela deixa transparecer por meio de seus desenhos o “eu interior” de forma bizarra, medonha e sádica, chegando a nos causar certo ar de pavor. Seus desenhos são feitos principalmente a lápis, o que resulta nas cores preto, brando e cinza, que segundo ela, “são as cores das fotografias antigas e antigos programas de TV, cores de fantasmas, saudade, passagem do tempo, memória e loucura”.

Laurie se inspirou em Durer, Memling, Van Eyck, Rembrandt e Goya, artistas da idade média e na fotógrafa Diane Arbus, conhecida por suas imagens desconcertantes. Nasceu em Nova York, começou a desenhar aos quatro anos de idade e foi a primeira pós-graduada com honras pela Carnegie-Mellon University, na Pensilvânia, com um grau de Belas Artes em desenho.

A obra mostrada a seguir é uma das minhas favoritas desta artista, não tem título (na verdade ela não costuma intitular suas obras). Neste quadro de Laurie Limpton existe muito além do que podemos imaginar. Por trás desta imagem existe todo um contexto histórico e social.

guernica.jpg

1) Observe que na xícara está estampado “Guernica” de Pablo Picasso, pintada em 1937, uma obra de arte que critica a guerra civil espanhola que aconteceu na pequena cidade de Guernica.

Segundo Picasso, a pintura não deve ser feita para decorar casas, ela deve ser feita como uma arma de ataque e defesa contra o inimigo.

A obra original de Picasso, assim como retratada na xícara, é composta apenas por preto, branco e cinza, cores que nos passam uma sensação de frieza e morbidez. Picasso pintou Guernica em resposta ao bombardeio nazista aéreo à cidade basca de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola, em abril de 1937. A obra tornou-se um símbolo das tragédias e do sofrimento causado pela da Guerra Civil. A violência e a indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por 5 meses em uma grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em Paris, no dia 4 de junho de 1937.

2) A única imagem colorida nesta obra é a televisão. Este artificio é utilizado para enfatizar o que está sendo exibido na programação. Observe que aparecem duas crianças com uma expressão de pavor, aparentemente fugindo de algo, sendo que uma delas possui o braço esquerdo mutilado, este pavor deixa transparecer uma dor insuportável, não apenas física, mas principalmente emocional. Pela situação retratada pode-se imaginar que seja uma guerra ou outro conflito, porém algo mais atual.

3) Na cama alguém está deitado, aparentemente em um ambiente bastante confortável e acolhedor. Guernica, uma das obras mais célebres do mundo (e está entre as principais obras de Pablo Picasso) está estampada em uma xícara. Isso nos mostra um contexto histórico banalizado, sendo a obra de Picasso classificada apenas como um mero ilustrador de objetos domésticos, onde com o passar do tempo não apresenta qualquer relevância para a sociedade.

A pessoa deitada, no conforto de seu lar “segura Guernica” sem conhecê-la, enquanto assiste a uma guerra qualquer em algum noticiário qualquer, totalmente indiferente ao redor, totalmente indiferente a situação do mundo, indiferente ao caos e aos seus resultados. Esta obra não precisa de qualquer legenda, ela por si deixa a transparecer sua temática: A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA.

Texto feito em parceria como o blog itinerário interno

Para conhecer mais sobre a obra de Laurie Lipton: http://www.laurielipton.com/

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16
Ago15

Hoje acordei meio hipster

por Hilton Besnos

publicado por Paula Cremasco

Uma reflexão sobre o termo hipster, seu surgimento, estranhamento social e uso nos anos 90. Por que ser hipster é ser diferente?

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Saí da cama e fui rastejando até ao banheiro. Na volta para o quarto, já mais acordada após jogar água e dar uns tapinhas no rosto, começou o meu dilema diário. O que vestir? O tempo em São Paulo costuma ser tão maluco que não sei mais identificar as quatros estações. Acho que em um só dia vivenciamos todas elas, com um curto intervalo de horas as separando. De qualquer maneira, enquanto abria o guarda-roupa me coloquei a pensar no que poderia cair bem para o dia. Hum… Hoje não está tão frio, acho que vou dobrar as barras das minhas calças alguns dedos para cima, opa! Colocar uma camiseta regata branca e… Ótimo! Uma camisa xadrez de manga curta. Para arrematar, um par de sapatos mocassim pretos. Arrumei meus cabelos em um lenço vermelho, dei uma espiada no espelho e julguei o visual adequado.

Quando sentei à mesa de café-da-manhã, meu irmão deu risada ao me ver e perguntou (derramando sarcasmo junto ao leite na xícara): “Acordou meio hipster hoje, é?” Era muito cedo para elaborar pensamentos coerentes (já que não sou uma pessoa exatamente matutina), mas silenciosamente achei essa fala bem preconceituosa e sorri, sem graça. No trabalho alguns alunos fizeram o mesmo comentário, apesar de tentarem ser mais respeitosos, era visível o tom de surpresa ou até mesmo um pouco de deboche. Foi aí que eu comecei a repensar essa coisa toda de estereótipos. Quando o termo hipster começou a ser mais usado, na década de 60 nos Estados Unidos, designava uma pessoa que pregava a contracultura, caracterizada por um forte senso de alienação das atividades sociais comuns e relacionamentos. Eles eram chamados de “hips”, que em português seria algo como “descolados”. Eram pessoas noturnas e ativas, ligadas à música e ao cinema alternativo e que cumpriam um papel vanguardista na época.

Ser um hipster, então, não era algo pejorativo, apenas alternativo. Pessoas que não gostavam de se misturar à maioria ou de realizar atividades consideradas comuns. Era um estilo de vida, um mergulho em uma cultura diversa, acima de tudo. Durante as décadas seguintes o termo se perdeu, não há muitos registros de seu uso. Mas ele ganhou representatividade e conotação diferente nos anos 90.

Os jovens dos anos 90, diferente dos da década de 60, apenas resgataram o conceito de “o que é antigo é bacana”, e passaram a usar barba cerrada, franjas desalinhadas, óculos de aro de tartaruga (daqueles bem grandes mesmo), tênis Converse All Star (modelos de Chuck Taylor que foram primeiramente lançados em 1917), casacos de lã, cachecóis e estampas xadrez ou com padrões geométricos, calças de veludo ajustadas nos tornozelos e por aí vai. Não houve criação, apenas apropriação do que já existia. Com esse conceito de hipster dos anos 90 surge o vintage: moda de roupas ou acessórios que remonte às décadas passadas.

Os hipsters de agora defendem e dão espaço para bandas de garagem pouco conhecidas e gostam, assim como os “fundadores” do movimento hipster da década de 60, de coisas desconhecidas e pouco divulgadas. Assim, são também adeptos da música indie (diminutivo da palavra independent), termo que ganhou notoriedade na década de 80, quando muitos produtores e músicos buscaram de forma independente trilhar seu caminho no ramo da música e buscou-se um nova alcunha para as bandas alternativas que surgiam nesse ínterim, e dessa forma, não se encaixavam em nenhum dos estilos já existentes. Fora isso, movimentos artísticos e cinematográficos antes pouco frequentados ganharam a força dos hipsters, que como sempre buscavam o inovador e desconhecido.

Desse modo, sendo os hipsters inovadores ou não, sua influência para a criação de novas tendências tanto na moda, quanto na música e comportamento é inegável. Por que não respeitar o direito de expressão deles, assim como se deve respeitar todos os outros grupos sociais? Permita-se acordar um dia pela manhã e usar aquele seu cachecol de zebrinhas com seu All Star preto. Um beijo pelo direito de defender seus gostos musicais, de moda, e de música, em geral. Acorde meio hipster quantas vezes quiser! Vamos desmistificar essa noção de estranhamento em relação ao que é chamado de diferente. Seja incomum. E se não quiser, não precisa. Seus gostos serão válidos porque são só seus, e de mais ninguém.

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15
Ago15

Por que escrever?

por Hilton Besnos

Carl_Schleicher_Schreibender_Mönch (jpeg).jpgpublicado em literatura por Gustavo Galli

A arte de escrever é tão intrínseca à essência humana que é quase possível afirmarmos que ela é mais uma descoberta do que propriamente uma invenção. Com o desenvolvimento das civilizações ao longo de milênios, cada vez mais a escrita se estabeleceu como uma importante forma de expressão e de estilo, tornando seu valor incontestável. Tendo isso em mente, a pergunta que surge é: Por que escrever?

É o ano de 2015. Segunda década do terceiro milênio. Vivemos nos dias atuais com a sensação de que o tempo passa cada vez mais depressa, e, consequentemente, que nossas vidas são cada vez menos aproveitadas. Em meio a toda essa correria cotidiana que envolve a maioria das pessoas nas sociedades do mundo, surge em minha cabeça uma tímida e silenciosa questão: Por que escrever?

Particularmente, acredito que a escrita é, depois da música, a maior invenção que a humanidade já teve o privilégio de conceber. Digo isso porque, para mim, a música na verdade foi descoberta. É impossível que mesmo os povos mais sábios de outrora tenham conseguido criar e desenvolver algo tão maravilhoso e inexplicável como a música. Nós apenas a descobrimos e a aprimoramos. Não a inventamos – mesmo que “música” signifique “a arte das musas”.

Mas afinal de contas, quais as similaridades entre a escrita e a música? Ambas têm a mesma origem: a necessidade humana de se expressar. Qualquer mente que não seja medíocre e irracional – como muitas que encontramos facilmente em qualquer lugar – tem a inerente vontade de exprimir o que se passa dentro dela. Seja através de um texto, de uma composição musical, de um ensaio filosófico, de uma pintura, de uma escultura ou qualquer outra forma de expressão. Escrever, assim como pintar ou tocar um instrumento, é uma arte.

O mais fascinante em relação a esse tipo de comunicação é a atemporalidade que ela possui. A escrita e a leitura são independentes. Sente-se no sofá e comece a ler A Divina Comédia (Dante Alighieri), publicada originalmente em 1555. Depois, feche o livro e leia Assim falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche), publicado em 1883. A seguir, pegue o jornal de ontem e dê uma lida. Não há limitações cronológicas. As obras estão lá e estarão sempre lá ao seu dispor, com suas palavras perpetuadas, à espera de serem lidas. Outro ponto interessante (e o mais forte) é a conexão que existe entre as duas mentes (escritor-leitor). Schopenhauer já dizia que ler é “pensar com a cabeça de outra pessoa”, mas, afinal, isso é tão ruim? Independentemente do que está sendo lido, o leitor tem a experiência de ouvir o que uma mente pensante quis declarar. O que o autor quis expressar? Quais sentimentos ou pensamentos ou ideias ele achou digno de transferir e propagar para outras mentes? Some isso ao fato da atemporalidade e pronto: eis a maior invenção humana.

No entanto, questiono agora a qualidade do que se tem escrito ultimamente. A decadência da literatura é notável e assustadora. Antigamente tínhamos mentes pensantes que estruturavam todo o pensamento que queriam propagar para, só então, passar para o papel. Hoje em dia mal temos o papel. Muitas pessoas sequer têm o interesse em publicar um livro. Uma parcela do mundo não quer se expressar, e a outra parcela não sabe. É insultante que tenhamos que ler o que quer que seja que não tenha tido uma preparação prévia. Vemos esses pseudo-escritores borbulhando com a vontade de exprimir o que suas mentes vazias cozinham e permanecemos carentes com conteúdo de qualidade. São como macacos diante de canetas e teclados. Se empertigam em suas cadeiras com ares de imponência, mas por trás de seus olhos frios não há nada senão crianças desordeiras que se divertem em tentar passar algo que nem eles mesmo entendem. Desrespeito e prepotência para com seus leitores. É necessário entender que palavras difíceis e frases mal construídas indicam, para os olhos de quem sabe o que está falando, o péssimo nível cognitivo e até mesmo espiritual desses chimpanzés de óculos.

Todavia, até mesmo nessa doença que existe em algumas pessoas tentarem transmitir conhecimentos e pensamentos que na verdade não possuem (camuflados em textos complexos e desconexos) há uma beleza evidente na literatura por si só. A liberdade que se tem ao escrever é fantástica. Todos podem escrever (mesmo que uns sejam desrespeitosos e quase iletrados) e tentar tornar tangível o que se emaranha nos fios do pensamento. Enquanto torço para que a parcela que não quer escrever comece a escrever, torço para os que tentam escrever aprendam a escrever.

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gustavogalli

GUSTAVO GALLI

Nada além de um pensador.
Saiba como escrever na obvious.

 

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