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A ARTE DE LAURIE LIPTON
Americana e radicada em Londres, Laurie Lipton é uma artista plástica contemporânea, suas obras contestam o mundo moderno, abrindo espaço para o terror e o existencialismo que nos assola. Ela deixa transparecer por meio de seus desenhos o “eu interior” de forma bizarra, medonha e sádica, chegando a nos causar certo ar de pavor. Seus desenhos são feitos principalmente a lápis, o que resulta nas cores preto, brando e cinza, que segundo ela, “são as cores das fotografias antigas e antigos programas de TV, cores de fantasmas, saudade, passagem do tempo, memória e loucura”.
Laurie se inspirou em Durer, Memling, Van Eyck, Rembrandt e Goya, artistas da idade média e na fotógrafa Diane Arbus, conhecida por suas imagens desconcertantes. Nasceu em Nova York, começou a desenhar aos quatro anos de idade e foi a primeira pós-graduada com honras pela Carnegie-Mellon University, na Pensilvânia, com um grau de Belas Artes em desenho.
A obra mostrada a seguir é uma das minhas favoritas desta artista, não tem título (na verdade ela não costuma intitular suas obras). Neste quadro de Laurie Limpton existe muito além do que podemos imaginar. Por trás desta imagem existe todo um contexto histórico e social.
1) Observe que na xícara está estampado “Guernica” de Pablo Picasso, pintada em 1937, uma obra de arte que critica a guerra civil espanhola que aconteceu na pequena cidade de Guernica.
Segundo Picasso, a pintura não deve ser feita para decorar casas, ela deve ser feita como uma arma de ataque e defesa contra o inimigo.
A obra original de Picasso, assim como retratada na xícara, é composta apenas por preto, branco e cinza, cores que nos passam uma sensação de frieza e morbidez. Picasso pintou Guernica em resposta ao bombardeio nazista aéreo à cidade basca de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola, em abril de 1937. A obra tornou-se um símbolo das tragédias e do sofrimento causado pela da Guerra Civil. A violência e a indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por 5 meses em uma grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em Paris, no dia 4 de junho de 1937.
2) A única imagem colorida nesta obra é a televisão. Este artificio é utilizado para enfatizar o que está sendo exibido na programação. Observe que aparecem duas crianças com uma expressão de pavor, aparentemente fugindo de algo, sendo que uma delas possui o braço esquerdo mutilado, este pavor deixa transparecer uma dor insuportável, não apenas física, mas principalmente emocional. Pela situação retratada pode-se imaginar que seja uma guerra ou outro conflito, porém algo mais atual.
3) Na cama alguém está deitado, aparentemente em um ambiente bastante confortável e acolhedor. Guernica, uma das obras mais célebres do mundo (e está entre as principais obras de Pablo Picasso) está estampada em uma xícara. Isso nos mostra um contexto histórico banalizado, sendo a obra de Picasso classificada apenas como um mero ilustrador de objetos domésticos, onde com o passar do tempo não apresenta qualquer relevância para a sociedade.
A pessoa deitada, no conforto de seu lar “segura Guernica” sem conhecê-la, enquanto assiste a uma guerra qualquer em algum noticiário qualquer, totalmente indiferente ao redor, totalmente indiferente a situação do mundo, indiferente ao caos e aos seus resultados. Esta obra não precisa de qualquer legenda, ela por si deixa a transparecer sua temática: A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA.
Texto feito em parceria como o blog itinerário interno
Para conhecer mais sobre a obra de Laurie Lipton: http://www.laurielipton.com/
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Saí da cama e fui rastejando até ao banheiro. Na volta para o quarto, já mais acordada após jogar água e dar uns tapinhas no rosto, começou o meu dilema diário. O que vestir? O tempo em São Paulo costuma ser tão maluco que não sei mais identificar as quatros estações. Acho que em um só dia vivenciamos todas elas, com um curto intervalo de horas as separando. De qualquer maneira, enquanto abria o guarda-roupa me coloquei a pensar no que poderia cair bem para o dia. Hum… Hoje não está tão frio, acho que vou dobrar as barras das minhas calças alguns dedos para cima, opa! Colocar uma camiseta regata branca e… Ótimo! Uma camisa xadrez de manga curta. Para arrematar, um par de sapatos mocassim pretos. Arrumei meus cabelos em um lenço vermelho, dei uma espiada no espelho e julguei o visual adequado.
Quando sentei à mesa de café-da-manhã, meu irmão deu risada ao me ver e perguntou (derramando sarcasmo junto ao leite na xícara): “Acordou meio hipster hoje, é?” Era muito cedo para elaborar pensamentos coerentes (já que não sou uma pessoa exatamente matutina), mas silenciosamente achei essa fala bem preconceituosa e sorri, sem graça. No trabalho alguns alunos fizeram o mesmo comentário, apesar de tentarem ser mais respeitosos, era visível o tom de surpresa ou até mesmo um pouco de deboche. Foi aí que eu comecei a repensar essa coisa toda de estereótipos. Quando o termo hipster começou a ser mais usado, na década de 60 nos Estados Unidos, designava uma pessoa que pregava a contracultura, caracterizada por um forte senso de alienação das atividades sociais comuns e relacionamentos. Eles eram chamados de “hips”, que em português seria algo como “descolados”. Eram pessoas noturnas e ativas, ligadas à música e ao cinema alternativo e que cumpriam um papel vanguardista na época.
Ser um hipster, então, não era algo pejorativo, apenas alternativo. Pessoas que não gostavam de se misturar à maioria ou de realizar atividades consideradas comuns. Era um estilo de vida, um mergulho em uma cultura diversa, acima de tudo. Durante as décadas seguintes o termo se perdeu, não há muitos registros de seu uso. Mas ele ganhou representatividade e conotação diferente nos anos 90.
Os jovens dos anos 90, diferente dos da década de 60, apenas resgataram o conceito de “o que é antigo é bacana”, e passaram a usar barba cerrada, franjas desalinhadas, óculos de aro de tartaruga (daqueles bem grandes mesmo), tênis Converse All Star (modelos de Chuck Taylor que foram primeiramente lançados em 1917), casacos de lã, cachecóis e estampas xadrez ou com padrões geométricos, calças de veludo ajustadas nos tornozelos e por aí vai. Não houve criação, apenas apropriação do que já existia. Com esse conceito de hipster dos anos 90 surge o vintage: moda de roupas ou acessórios que remonte às décadas passadas.
Os hipsters de agora defendem e dão espaço para bandas de garagem pouco conhecidas e gostam, assim como os “fundadores” do movimento hipster da década de 60, de coisas desconhecidas e pouco divulgadas. Assim, são também adeptos da música indie (diminutivo da palavra independent), termo que ganhou notoriedade na década de 80, quando muitos produtores e músicos buscaram de forma independente trilhar seu caminho no ramo da música e buscou-se um nova alcunha para as bandas alternativas que surgiam nesse ínterim, e dessa forma, não se encaixavam em nenhum dos estilos já existentes. Fora isso, movimentos artísticos e cinematográficos antes pouco frequentados ganharam a força dos hipsters, que como sempre buscavam o inovador e desconhecido.
Desse modo, sendo os hipsters inovadores ou não, sua influência para a criação de novas tendências tanto na moda, quanto na música e comportamento é inegável. Por que não respeitar o direito de expressão deles, assim como se deve respeitar todos os outros grupos sociais? Permita-se acordar um dia pela manhã e usar aquele seu cachecol de zebrinhas com seu All Star preto. Um beijo pelo direito de defender seus gostos musicais, de moda, e de música, em geral. Acorde meio hipster quantas vezes quiser! Vamos desmistificar essa noção de estranhamento em relação ao que é chamado de diferente. Seja incomum. E se não quiser, não precisa. Seus gostos serão válidos porque são só seus, e de mais ninguém.
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