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A tecnologia evoluiu - por que continuamos trabalhando como no século passado?

18/08/2015 - 10H08/ atualizado 10H0808 / por thiago tanji

 (Foto: Revista Galileu)

Se você compartilha a ideia de que há pouca diferença entre caminhar sobre espinhos e brasa quente e acordar na segunda-feira para mais uma semana de expediente, não se sinta mal: a palavra “trabalho” tem origem no latim tripalium, nome dado a um instrumento de tortura utilizado para punir escravos desobedientes.

De lá para cá, pensadores de diferentes épocas e ideologias observavam o esforço de camponeses, artesãos e operários e davam a maior força para eles — filosoficamente, é claro. “O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidade”, dizia o iluminista francês Voltaire. Já o alemão Karl Marx considerava que a produção material era responsável por cimentar os diferentes aspectos de uma sociedade, incluindo a própria concepção de identidade dos seres humanos. Hoje, ao mesmo tempo que a automatização de processos permitiu o aumento de produtividade, ainda convivemos com questões de décadas passadas, como longas jornadas de trabalho, insatisfação com o cotidiano das cidades e a ameaça do desemprego. Governos e empresas têm papel central nessa discussão, mas a busca por mudanças também parte das novas gerações, que desejam algo além do expediente das nove às 18 horas. 

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

 

NA PRESSÃO

Aumenta número de brasileiros insatisfeitos 

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que 7% da população mundial — ou 400 milhões de pes­soas — sofrem de depressão. No Brasil, a doen­ça está na 13ª colocação entre as principais causas que provocam afastamento do trabalho, de acordo com dados de 2015 do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Na cidade de São Paulo, a depressão é o terceiro maior motivo que afeta a saúde do trabalhador. “Os problemas são motivados por longas jornadas de trabalho e excesso de tarefas”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do Isma-BR (International Stress Management Association).

Em abril deste ano, o instituto, especializado no estudo e no tratamento do stress, divulgou uma pesquisa realizada com mais de mil profissionais de Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo a respeito da qualidade de vida no trabalho. Os resultados indicam que em diferentes segmentos o índice de insatisfação chega a 72% dos entrevistados. “As pessoas não conseguem dar conta das atividades exigidas pelas empresas, e isso desequilibra a vida profissional e pessoal, o que leva a má alimentação, menos tempo de sono e falta de atividades físicas”, diz Ana Maria. Para Luciana Caletti, CEO da empresa brasileira Love Mondays, plataforma on-line feita para que funcionários avaliem anonimamente suas empresas, aspectos como salário baixo e falta de reconhecimento dos chefes são algumas das principais reclamações: “Com a crise econômica, a perspectiva de trocar de emprego caiu bastante, assim como a expectativa de aumento salarial.”

 

 (Foto: Revista Galileu)


 

EXPEDIENTE PUXADO

Brasil tem uma das maiores jornadas semanais de trabalho do mundo
 (Foto: Revista Galileu)

O automóvel Ford T, produzido em 1913, revolucionou o capitalismo mundial ao introduzir linhas de montagem capazes de diminuir o tempo de fabricação dos veículos de 12 horas para apenas 90 minutos, o que possibilitou a diminuição dos preços e a massificação do produto. Hoje, fábricas como a da Hyundai, na cidade sul-coreana de Ulsan, são capazes de rolar da linha de produção novos carros a cada 12 segundos, graças à robotização de parte dos processos. Mas, se é verdade que as 16 horas diárias de expediente dos tempos da Revolução Industrial ficaram para trás, ainda gastamos boa parte de nosso dia no trabalho. “O Brasil tem uma das maiores jornadas de trabalho legais do mundo, com a possibilidade irrestrita de horas extras”, diz Cássio Calvete, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (­UFRGS) e especialista no assunto. Em 1988, com a nova Constituição, os legisladores ajustaram pela última vez a jornada de trabalho, que caiu de 48 para 44 horas semanais. “O aumento da produtividade permitiria a redução das horas trabalhadas, mas isso não acontece por conta das empresas, que desejam lucros cada vez maiores”, afirma Calvete.

 (Foto: Revista Galileu)
MAPA DA VERGONHA
Levantamento feito pela organização Walking Free Foundation indica que milhões de pessoas ainda vivem em condições semelhantes à escravidão

O QUE É ESCRAVIDÃO MODERNA: Os organizadores da pesquisa consideram que um ser humano vive em condições análogas à escravidão quando tem sua liberdade restringida por outra pessoa, com a intenção de explorá-la. Tráfico humano e exploração sexual também fazem parte desse conceito.

clique na imagem para ampliá-la (Foto: Revista Galileu)
 
NO OLHO DO FURACÃO
 
Em meio à grave crise econômica, decisões políticas afetam o futuro dos trabalhadores

Os últimos dados do IBGE indicam que 8,2 milhões de brasileiros estão desempregados. A desaceleração econômica deste ano, responsável por liquidar 240 mil postos de trabalho, motivou o governo federal a criar o Programa de Proteção ao Emprego, que propõe a redução temporária de até 30% das jornadas de trabalho de setores produtivos fragilizados, com diminuição proporcional da remuneração dos funcionários.

A medida, que espera poupar pelo menos 50 mil empregos, não é a única discussão travada entre governo, empresários e trabalhadores. Em abril, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que amplia a terceirização, permitindo às empresas subcontratar todos os seus serviços. “Isso permitirá o aumento da rotatividade de empregos, a diminuição de salários e a precarização do mercado de trabalho”, afirma o professor Cássio Calvete. O projeto, criticado pelas principais centrais sindicais do país, será votado agora no Senado. Outra questão política diz respeito à discussão da previdência social: de acordo com dados das Nações Unidas, até 2050 o Brasil terá 22,5% de idosos em sua população, o que faz o país repensar seu atual modelo de aposentadoria. “Com essa tendência, teremos cada vez mais beneficiários e menos contribuintes”, diz Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em junho, a presidente Dilma Rousseff sancionou uma medida provisória para um novo cálculo da aposentadoria, baseado na soma de idade do contribuinte com o tempo trabalhado. Inicialmente, mulheres poderão pedir a aposentadoria quando a soma chegar a 85, e homens, a 95.

 

VOCÊ É O CHEFE

Mais jovens decidem empreender, mas o caminho para o sucesso não é fácil

Reunir alguns amigos de faculdade, escrever linhas de código, criar um aplicativo ou serviço de internet inovador e faturar alguns bilhões de dólares em pouco tempo. Com a massificação da tecnologia, criar grandes negócios a partir do zero não é mais uma realidade tão distante para jovens empreendedores de diferentes partes do mundo. “Um empreendedor pensa incansavelmente em melhorar algo. Mas, se antes era necessário construir uma fábrica, hoje o aumento da capacidade produtiva permite adaptar ideias de maneira rápida e sem mobilizar muito capital”, afirma Newton Campos, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em startups, nome dado às empresas de tecnologia que propõem métodos horizontalizados e menos engessados de organização corporativa. No Brasil, cada vez mais jovens estão dispostos a deixar de seguir uma carreira formal para criar o próprio negócio: dados da Associação Brasileira de Startups registram 3.515 jovens empresas cadastradas em seu banco de dados. Mas um levantamento realizado pela escola de negócios Fundação Dom Cabral indica uma realidade difícil: 25% das startups fecham as portas antes de completar um ano de vida, e metade delas encerra suas atividades em menos de quatro anos.

 

 (Foto: Revista Galileu)
 
PARA DESAFOGAR AS CIDADES

Distribuição de postos de trabalho e mudanças de rotina ajudariam a resolver até problemas urbanos

Não é preciso ser um grande observador para perceber que as principais cidades brasileiras precisam resolver em caráter de urgência a questão da mobilidade urbana. São Paulo e Rio de Janeiro são líderes mundiais no tempo de deslocamento da residência para o trabalho — 42,8 e 42,6 minutos, respectivamente. “Os postos de trabalho estão concentrados em regiões centrais e afastados da periferia, obrigando o trabalhador a percorrer uma grande distância em um sistema de transporte que não é integrado”, afirma Vitor Mihessen, que realizou um estudo sobre mobilidade urbana e mercado de trabalho no Rio de Janeiro em pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF).

“As empresas também têm um papel fundamental nessa questão, porque já temos o aparato tecnológico para trabalhar a distância, além de mudar horários de expediente para conseguir uma fluidez melhor no trânsito”, diz. Para Giancarlo Bonansea, líder de inovação digital da consultora Accenture, as companhias devem se adaptar a essa flexibilização, sob o risco de perder jovens funcionários que não concordam com modelos rígidos de expediente. “Se é possível contratar parceiros que prestam serviços remotos a partir de outros países, por que não agir da mesma maneira com os profissionais da sua empresa?”, questiona o especialista. “Há um receio plausível sobre se o profissional estará produzindo ou não, mas o que se deve considerar é o resultado final do trabalho entregue.”

 (Foto: Revista Galileu)
 (Foto: Revista Galileu)

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23
Ago15

What goes up

por Hilton Besnos

 

Estamos, no vídeo acima, observando um cenário tão habitual mas, ao mesmo tempo, tão incrivelmente desconhecido, que beira ao desconforto. O que sabemos sobre o mundo do petróleo é jogado para os nossos universos micro, o quanto pagamos de gasolina no posto, qual vai ser o percentual de aumento sobre os produtos e os impactos sobre o custo de vida, a cesta básica, etc. Sabemos, por exemplo, das  notícias  sempre aflitivas de conflitos em zonas produtoras, enfim um caos que mereceria uma compreensão maior de nós todos, simples mortais. Basta pensarmos no pré-sal. o que sabemos? O que nos dizem, e é só, ou seja, o jornalismo é que nos mantém sabedores do que, evidentemente, interessa que saibamos.

Quando se fala em petróleo, se fala igualmente que não é uma fonte renovável de energia e, menos ainda, uma fonte limpa ou ecológica de energia. Um documentário informou que, após a idade do carvão como matriz mundial energética, o mesmo foi substituído pelo petróleo, mas que não existe qualquer outra fonte que o suceda. O mundo inteligente se volta, então, para as energias limpas, como a eólica e a solar, por exemplo, mas o fim do petróleo decretará consigo o fim de uma época importante para toda a humanidade.

Por outro lado, falar em petróleo é também pensar do ponto de vista cultural, social, antropológico, de exploração tecnológica e, não raro, pensar em guerras de dominação econômica e que se camuflam convenientemente sob o non-sense ideológico. De todo modo, o filme acima é uma preciosidade, e pode ser analisado sob vários ângulos que denunciam, cada um a seu modo, a predação e a tolice civilizatória de jogarmos todas as nossas fichas em apenas uma grande, mas finita, matriz energética.

Também nos alerta sob o fato de que teríamos de investir firmemente em processos alternativos energéticos, e, quem sabe, olharmos para a natureza com olhos distintos daqueles com que a observamos, sob cobiça, exploração de recursos não renováveis e pura e simples destruição para a sangrarmos com a pretensão de lucros cada vez  maiores. Talvez aprendamos com o petróleo, ou com seu ciclo, que somos parte planetária, e que a natureza, gostemos ou não, reage a cada absurdo que cometemos. Nós somos os passageiros, mas não comandamos o que nos transporta.

O vídeo nos ensina. Sejamos humildes, aprendamos um pouquinho, um ínfimo que seja. HILTON BESNOS

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FONTE: BLOG INFOPETRO

http://infopetro.wordpress.com/2012/03/19/observatorio-de-geopolitica-da-energia-ii-o-jogo-do-gas-natural-entre-europa-e-russia/

 

Observatório de geopolítica da energia II: o jogo do gás natural entre Europa e Rússia

In gás natural on 19/03/2012 at 00:15

Por Renato Queiroz e Felipe Imperiano

 

 

O acesso  a recursos que revertam em  segurança energética  constitui-se em tema relevante nas pautas de política externa dos países. A concentração espacial de recursos naturais estratégicos para o desenvolvimento das nações e garantidores do nível de bem-estar de seus cidadãos tem consequências profundas no delineamento das políticas energéticas das nações. O uso de ativos energéticos como ferramenta de defesa de interesses políticos e econômicos não é algo novo no cenário internacional.

Um bom exemplo que se tornou emblemático para os estudiosos em geopolítica energética é a situação de dependência da Europa em relação ao  gás russo e, em contrapartida, como o gás natural é estratégico para o desenvolvimento econômico da Rússia. O Estado russo sempre se valeu de suas enormes reservas de óleo e gás. O país tem a sétima maior reserva de petróleo do mundo e a maior reserva de gás natural, isto é, 24% do total.  Em 2010 a Rússia foi ao mesmo tempo maior produtor de gás natural, alcançando a cifra de 637 bcm (bilhões de metros cúbicos), isto é, 19,4% do total produzido mundialmente, sendo ao mesmo tempo o número um em exportações (IEA, 2011).

A  Europa, ávida por energia, traçou planos para o suprimento ao seu mercado através de fontes longínquas de suas fronteiras. Os russos se mobilizaram e vieram construindo de forma gradual e persistente seus oleodutos e gasodutos em direção à Europa. A Rússia tem um planejamento nacional estratégico expansionista, baseado em  exportação de energia sendo, inclusive, o único exportador líquido de energia dos BRIC´s. O principal mercado para o gás russo é a Europa.

Como o crescimento do consumo de gás no continente europeu deve permanecer por longo período, essa dependência energética da Rússia deve ter vida longa segundo muitos analistas. A fatia da estatal russa Gazprom  no mercado europeu ultrapassa 50%.  Agravando essa dependência, surge a insegurança que ronda as decisões sobre o uso de plantas de geração de energia nuclear na Europa, o que coloca o gás natural como uma forte opção para atender a uma oferta perdida. Em adição, a crise econômica iniciada em 2011 deflagrou um processo de austeridade fiscal, o qual traz consequências importantes sobre a capacidade de financiamento de fontes alternativas de energia,  aumentando ainda mais a dependência da matriz europeia  ao  gás natural.  Logo, essa questão ganha contornos mais complexos no continente europeu, posto que o seu número de fornecedores é bastante reduzido.

Os russos sempre utilizaram as mais diversas estratégias para manterem seus negócios energéticos com a Europa. O subsídio da energia para os estados membros da antiga URSS já era uma prática comum antes mesmo da ascensão ao poder de Vladmir Putin na Rússia, por exemplo. Ainda hoje esse artifício é bastante usado pelo Kremlin. Nas recentes disputas pelo preço do gás com os países do leste europeu, foi oferecido o perdão da dívida em troca do monopólio da rede de dutos que passam por aqueles países para levar gás russo até o oeste europeu e assim aumentar o controle da Gazprom sobre o transporte do suprimento energético para a Europa.

Por um lado, se a Europa é bem dependente da energia proveniente da Rússia, por outro ela exerce importante papel na economia russa. A União Europeia não só é o principal parceiro comercial, como também a maior fonte de investimento direto estrangeiro (IDE) no país. Em 2008 o IDE da UE na Rússia atingiu US$ 43 bilhões, sofrendo uma substancial queda após a crise financeira mundial, porém se recuperando rapidamente e chegando ao patamar de US$ 34 bi já em 2010. Mas há gargalos de infraestrutura e de atraso tecnológico na Rússia.  O país necessita de fortes investimentos nessas áreas e de transferência  de  know-how ocidental, vital para que o seu setor energético não enfrente uma queda na produção, o que poderia afetar drasticamente o orçamento do Estado. Assim, o fluxo de recursos financeiros provenientes das vendas de gás para a Europa é vital.

Além disso, o preço pago pelo gás russo teve consideráveis elevações nos últimos anos,  aproximando-o do Gás Natural Liquefeito-GNL, o que fez com que este se tornasse mais competitivo. O gráfico abaixo apresenta a evolução dos preços do gás natural nos mercados, incluindo o do gás natural no Henry Hub.

Tal competitividade levou a Rússia a monitorar atentamente o mercado de GNL, desenvolvendo estratégias que impeçam que esse gás concorrente aumente a sua  participação no mercado energético europeu.  Como exemplo, em novembro de 2011, em Doha, no Qatar, na  1ª Cúpula de Países Exportadores de Gás Natural [1], os russos, representados pelo seu presidente Dmitri Medvedev, estiveram nessa cimeira com uma posição de defender seu mercado de gás. Afinal a expansão das plantas de GNL é uma forte ameaça para a manutenção do marketshare russo, podendo levar a uma perda de receita significativa.  A Rússia, assim, negociou com o Qatar, em troca de não aumentar o  fornecimento de GNL à Europa, o direito de investir no projeto Yamal que vai produzir gás natural liquefeito na península de mesmo nome  na Sibéria, uma espécie de embargo do GNL ao velho continente.

A Europa, no entanto, busca soluções de novas fontes de fornecimento de gás fora da Rússia. A região do Cáucaso e da Ásia Central se tornou a nova fronteira energética, sendo alvo de disputa por diversas potências. O Turcomenistão tem a quarta maior reserva de gás do mundo, o Cazaquistão a nona maior de petróleo. O Azerbaijão tem  reservas de gás comprovadas que totalizam cerca de 2,6 trilhões de metros cúbicos.  As perspectivas de  produção de gás no Azerbaijão em 2017 atingirão 30 bilhões de metros cúbicos,  e em 2025 – 50 bilhões. A Europa tem no “Corredor do Sul”, como é chamado o conjunto de projetos que pretendem ligar a região ao continente europeu, a sua principal alternativa para reverter o quadro delicado em que se encontra no campo energético.

O gasoduto Nabucco, por exemplo, é o projeto mais ambicioso e mais caro de todos. A base prevista de recursos são as reservas no Azerbaijão e Turcomenistão.  Esse  gasoduto transportaria gás da Ásia Central à Europa de forma a reduzir a dependência da energia russa. Há dificuldades ainda para a concretização do projeto. O gasoduto de grande extensão necessita de cerca de 14 bilhões de euros para o seu financiamento e  tem ainda um traçado que exige difíceis acomodações políticas. Essa indefinição faz com que os russos mantenham a determinação de influenciar o mercado europeu de energia.

Historicamente a região do Cáucaso e Ásia Central esteve sobre a égide russa. Logo, Moscou lança mão de todas as táticas para  manter a área dentro de seu controle político,  buscando inclusive estabelecer ações, para que  os fluxos de energia para a Europa sigam pela sua rede de transporte. Uma das manobras russas é enfraquecer o poder dos ucranianos que tem um histórico de colocar empecilhos técnicos e comerciais,  para que o gás russo, que passa pela Ucrânia, chegue à Europa. A Rússia, assim, buscou acabar com a sua dependência em relação ao gasoduto da Ucrânia. O projeto russo-alemão Nord Stream,  inaugurado em 2011, dá condições à Rússia de enviar gás natural diretamente para a Europa através de gasodutos submarinos construídos no Mar Báltico. Outra estratégia dos russos seria a construção do projeto South Stream nas águas territoriais turcas no Mar Negro. A Turquia já autorizou que os russos passassem o duto por suas águas territoriais. Esse projeto, se consolidado, permitirá que a Rússia atinja o sudeste europeu, podendo inviabilizar o projeto Nabucco.

Verifica-se que os russos estão acelerando suas ações para manter a condição de fornecedor principal de gás à Europa, afinal, além do GNL, um novo e forte concorrente bate à porta, querendo  entrar no jogo: o shale gás, ou seja, o gás recuperável nas rochas de xisto. Vale ressaltar que a Polônia, que se organiza para explorar  suas reservas de gás de xisto que beiram 5,0 trilhões de metros cúbicos,  pode reduzir a dependência de Moscou sobre a Europa.

O jogo do gás natural entre Europa e Rússia trará, no médio prazo, novas configurações. O aumento da oferta do gás natural seja convencional, shale gás, ou GNL mexerá no tabuleiro energético não somente da Ásia e Europa, mas também no âmbito mundial. Um dado curioso é comparar as reservas provadas de gás convencional que somam 6.608 trilhões de pés cúbicos-TCF( trillion cubic feet) ou seja,  cerca de 187 trilhões de metros cúbicos, segundo a BP,  e o volume de shale gas recuperável,  conforme estudo da EIA de 2011, que soma o mesmo nível do convencional, 6.620 TCF ou 187,4 trilhões de metros cúbicos.

Em suma a maior oferta de gás trará um alinhamento dos mercados. Esse cenário de gás abundante no horizonte de 20 a 40 anos (2030 a 2050) influenciará, certamente, os preços dos combustíveis fósseis e pode, inclusive, respingar no mercado das energias renováveis.


[1] A 1ª Cúpula de Países Exportadores de Gás Natural reuniu  Rússia, Argélia, Bolívia, Venezuela, Egito, Irã, Qatar, Líbia, Nigéria, Guiné Equatorial e Trinidad e Tobago. Estavam presentes como observadores a Holanda, a Noruega e o Cazaquistão. Esses 14 países controlam 70% das reservas mundiais de gás e mais de 80% da produção do gás natural liquefeito-GNL

Referencias Bibliográficas

BP Statistical Review of World Energy, 2011

IEA World Energy Outlook, 2011

EIA-DOE World  Shale Gas Resources: An Initial Assessment of 14 Regions Outside

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23
Ago15

Um futuro a reinventar

por Hilton Besnos
Sisse Brimberg & Cotton Coulson/Keenpress/Getty
 

Na América e na Europa, a crise económica cada vez se assemelha mais a uma crise existencial. Há soluções para construir um outro futuro, nota o sociólogo francês Alain Touraine, mas os políticos não sabem aproveitá-las.

 

 

As três crises. Esta fórmula parece artificial, mas não é. Por trás da crise financeira, estalou uma crise monetária e económica que revelou ser uma crise política. E os nossos países europeus mostraram-se incapazes de pensar e de organizar o seu próprio futuro, facto que constitui uma terceira crise.

A primeira, a mais visível, foi a crise financeira que culminou em setembro de 2008 com o fecho do banco Lehman Brothers em Nova Iorque. Esta crise foi mais grave nos EUA e na Grã-Bretanha, mas também na Europa continental. Em contrapartida, depressa outros países se restabeleceram e chegaram mesmo a atingir elevados níveis de crescimento.

Houve quem julgasse a crise acabada e a retoma assegurada, quando, no início de 2010, estalou uma crise, sobretudo europeia, orçamental e económica. Tudo começou com um imprevisto: a Grécia estava à beira da falência. Descobrimos então a gravidade dos nossos males: a enormidade dos défices orçamentais, o rápido crescimento da dívida pública, a incapacidade quase generalizada de fazer descer os elevados números do desemprego.

Esta crise é, acima de tudo, uma crise política. É uma crise que manifesta a impotência dos países europeus em gerir a sua economia, em diminuir a despesa pública, em fazer crescer as receitas fiscais e, sobretudo, em relançar o crescimento sem o qual não haverá qualquer recuperação orçamental.

Um modelo ocidental de conquista e imponente

A terceira crise que assola o ocidente é a ausência de um projeto civilizacional, facto que ainda se compreende menos. Durante séculos, o ocidente europeu concentrou todos os seus recursos nas mãos de uma elite dirigente de monarcas absolutos e, mais tarde, do grande capital.

Conseguiu igualmente conquistar, em poucos séculos, uma grande parte do mundo. Mas este modelo de conquista assenta sobre duas situações perigosas. A primeira é o facto de toda a sociedade estar brutalmente submetida ao poder dos dirigentes. Dos súbditos de sua majestade aos operários fabris e aos colonizados, às mulheres e às crianças, todas as faixas da população ficaram sujeitas a formas de dominação extrema. O modelo ocidental foi, simultânea e indissoluvelmente, um modelo de conquista e um modelo imponente.

A sua outra fraqueza foi ter servido para a formação de nações que estiveram em guerra durante séculos, até que a Europa do século XX se lançou em duas guerras mundiais e numa vaga de regimes totalitários. As lutas entre nações europeias só terminaram com a hegemonia americana e a criação de uma União Europeia assente no enfraquecimento dos Estados. O sistema social europeu foi-se enfraquecendo mais lentamente.

Uma Europa sem projeto de vida

Os povos derrubaram monarcas, os assalariados conquistaram direitos sociais, as colónias libertaram-se, as mulheres conquistaram direitos, mesmo que não tenham conseguido acabar com a desigualdade que as vitima. Mas depois da Belle époque, dos anos de democracia social da segunda metade do século XX, a Europa, libertada dos seus maiores sofrimentos e das suas maiores loucuras, encontra-se sem modelo de desenvolvimento, sem projeto de vida.

São da Europa as grandes vozes que se fizeram ouvir nestes últimos séculos, mas hoje a Europa está silenciosa, vazia, sobretudo por não ter conseguido, até à data, substituir o seu antigo modelo de modernização. Mas isso não é impossível e já conhecemos os grandes temas que deveriam ser prioritários para o próximo século: os ecologistas convenceram-nos a conciliar os direitos da economia com os direitos do ambiente; os movimentos culturais revelaram-nos que não basta conquistar o governo da maioria e que também é preciso respeitar os direitos das minorias.

As mulheres, de uma forma mais privada do que pública, começaram a construir uma sociedade cujo principal objetivo é reconciliar os opostos e privilegiar a integração interior em detrimento da conquista exterior. Estes grandes projetos, no entanto, que deveriam imperiosamente transformar-se em projetos políticos, têm mais apoio da opinião pública do que dos governos.

A impotência política e intelectual: a causa principal da crise

Embora seja possível inventar um futuro, já não temos instrumentos políticos e, sobretudo, intelectuais para sairmos das crises cujas consequências mais negativas temos tentado apenas atenuar. O capital financeiro é o único setor da vida económica que se restabeleceu depressa e bem. Simultaneamente, a desigualdade social continua a aumentar, a economia de produção saiu da Europa e o debate político continua o mesmo em todos os países. Não podemos dizer que a nossa impotência política e intelectual seja uma consequência da crise. Ela é a sua causa principal. Este facto indica claramente onde se encontram as nossas prioridades.

Não existe uma solução para a crise económica sem uma solução para a crise política e cultural. É urgente o restabelecimento político e, sobretudo, o renascimento intelectual e cultural. A Bélgica e a Holanda foram assolados por um populismo chauvinista e xenófobo. A vida política em Itália e em França está arruinada e tem de ser totalmente reconstruída. Perante o papel dominante dos EUA, carecemos da vitória de Barack Obama sobre um partido republicano reacionário e pouco inteligente.

Foram os melhores economistas que nos explicaram a importância primordial das soluções sociais e políticas para ultrapassar a crise económica, mas os políticos dão mostras de ainda não terem entendido. Não podemos continuar a avançar devagarinho, pois nem sequer sabemos se estamos a avançar ou a recuar. Precisamos urgentemente de imaginar, pensar e construir o nosso futuro, afastando a névoa e o silêncio que nos impede de descobrir os instrumentos políticos indispensáveis à construção desse futuro.

Fonte: artigo retirado de

http://www.presseurop.eu/pt/content/article/352271-um-futuro-reinventar

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LE MONDE DIPLOMATIQUE

http://www.diplomatique.org.br/edicoes_especiais_artigo.php?id=119

04 de julho de 2012

Longe das urnas, as três principais agências de classificação de risco dão a medida da crise que sacode a Europa, orquestrando o que o então presidente da Autoridade dos Mercados Financeiros (AMF) da França, Jean-Pierre Jouyet, qualificou de “ditadura de fato” dos mercados.

por Ibrahim Warde.

 

Como adolescentes agitados, os governos contemporâneos espreitam as mudanças de humor das agências de classificação de risco. Apanágio dos países ditos “emergentes” até a recente crise financeira, atualmente essa antecipação febril toma conta de todos. Dos cerca de 160 países avaliados, apenas 15 ainda ostentam a nota mítica, o triplo A. Ora, o sistema de classificação é rico em efeitos perversos, a começar pela natureza autorrealizadora das profecias desses nostradamus modernos. Basta que eles prevejam uma crise (mesmo sem razão) para que se precipite a própria crise.

Em outubro de 2011, a agência de classificação norte-americana Moody’s anunciou que examinaria a situação econômica da França para decidir se rebaixava ou não a nota do país. Mas o elemento-surpresa veio de outra gigante do rating, a Standard & Poor’s (que cinco meses antes tinha retirado dos Estados Unidos seu triplo A), quando decidiu rebaixar, em 13 de janeiro de 2012, a nota de nove países da zona do euro. A França perdeu seu precioso triplo A, que detinha havia 36 anos.

Ao rebaixar a nota francesa, a Standard & Poor’s citou não só o crescimento anêmico e o “endividamento” do país, mas também a “rigidez” de seu mercado de trabalho. Em resumo, as agências reclamam concomitantemente crescimento, austeridade e flexibilidade do setor trabalhista: uma lógica cujas falhas, contudo, são demonstradas pela agonia da economia grega, submetida recentemente ao controle do rigor fiscal. Mas, tanto faz, isso não importa…

 Adequação das políticas

Pouco antes da decisão da agência de classificação, Alain Minc, ligado a Nicolas Sarkozy [que deixou o posto de presidente francês em maio de 2012], declarava que o triplo A da França era sinônimo de “tesouro nacional”,1 sugerindo que a adequação da política do presidente (em particular o persistente plano de austeridade) às exigências do mercado era um trunfo de primeira grandeza para sua reeleição.

O então porta-voz do Partido Socialista (PS) Benoît Hamon fez uma análise diferente, num texto publicado em 2011: “Qualquer promessa de conquista social está exposta ao rebaixamento da nota de um país pelas agências de classificação de risco. É inaceitável, mas por enquanto é assim. Esse é o dilema da esquerda: combater ou trair”.Aparentemente, o então candidato à eleição presidencial pelo PS, François Hollande, tinha feito sua opção. Após o rebaixamento da nota francesa, ele fez do então presidente, Nicolas Sarkozy, o alvo de suas críticas, a ponto de validar a ação das agências: “É a credibilidade da estratégia aplicada desde 2007 que está sendo posta em jogo. Tal estratégia não foi coerente, não foi constante, não foi previdente e, sobretudo, não foi eficaz”.3 O então primeiro-ministro, François Fillon, fez raciocínio semelhante quando respondeu: “Seria interessante saber o que uma agência de classificação pensa de um programa [como o do PS], no qual só o que há são argumentos que defendem gastos [públicos] e alta de impostos, e, pior ainda, a volta atrás, relativamente a decisões estruturais, como a reforma da aposentadoria ou a política nuclear da França”.4

 Ditadura dos mercados

O embate teve uma virtude. Revelou a lógica interna dos acontecimentos: atualmente, os programas econômicos dos dirigentes políticos europeus parecem prioritariamente destinados a seduzir os três famosos cérberos– o mítico cão vigilante – do setor financeiro [Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch Ratings], e não a população, inclusive em período eleitoral. Uma situação que Jean-Pierre Jouyet, então presidente da Autoridade dos Mercados Financeiros (e ex-secretário de Estado sob o primeiro-ministro François Fillon) da França, qualificou de “ditadura de fato dos mercados”.5

Há até pouco tempo, o poder das agências limitava-se ao mundo empresarial e das coletividades locais, a cujas emissões de títulos elas conferiam uma nota. A análise de solvibilidade dos tomadores de empréstimos e capitais é que a fundamenta. O triplo A, extremamente almejado e raramente atribuído, é concedido aos melhores tomadores e indica uma segurança de pagamento absoluta. À medida que a probabilidade de não pagamento aumenta, a nota diminui. O triplo B é sinônimo da menção “passável”, pois ainda se está – mas no limite – na categoria “investimento” (investment grade): ou seja, um investidor prudente ainda pode se aventurar. Abaixo desse patamar, já se cai na categoria de “especulação” (speculative grade), que só convém aos mais temerários, dispostos a assumir o risco em troca de um rendimento elevado. A nota D, atribuída aos títulos em defaultde pagamento, é sinônimo de pontuação zero do sistema.

Em princípio, uma boa avaliação permite emprestar a taxas mais baixas.6 Quanto mais a nota diminui, maior é a taxa de juros, pois os investidores exigem então um prêmio, o “bônus de risco”. Os títulos com classificação desfavorável (ou sem nota) são considerados “podres” (junk bonds), mesmo que seus vendedores prefiram a denominação “títulos de alto rendimento” (high yield bonds).

 Em busca de uma boa nota

O procedimento de classificação tem um funcionamento mecânico e regular: o cliente apresenta seu dossiê, uma equipe de examinadores vai visitá-lo e examina suas contas detalhadamente antes de fazer um relatório interno; esse relatório é em seguida submetido a um comitê que estabelece a nota. Para alguns tipos de empresa, um bom ratingé vital. Um banco com nota desfavorável, por exemplo, fica automaticamente em posição desfavorável perante seus concorrentes mais bem avaliados, que pagam menos pelos recursos que levantam. A mesma coisa acontece com as seguradoras: na medida em que a nota atribuída reflete a capacidade de honrar os compromissos relativos aos segurados, toda e qualquer degradação provoca a desconfiança dos clientes e, dessa forma, uma queda do faturamento.

Apesar de privadas, as agências de classificação de risco recebem a fiança do poder público, o que as autoriza a definir as regras do jogo financeiro. Por um lado, a maioria dos emissores precisa obter uma nota. Por outro, alguns investidores institucionais – seguradoras, fundos de pensão, fundos de investimento e poupança – precisam investir o essencial, quando não a totalidade de seus capitais em emissões com boas notas. Além disso, as instituições financeiras que se beneficiam das melhores notas são em geral submetidas a uma regulamentação menos rigorosa.

Apesar de teoricamente aberto a todos, o mercado de classificação se resume, fundamentalmente e com exceção de setores bem precisos, a um binômio formado pela Standard & Poor’s, filial da Editora McGraw-Hill, cujas origens remontam a 1860; e pela Moody’s, filial do grupo de informação financeira Dun & Bradstreet, fundada em 1900.7Essas duas empresas gozam de uma situação privilegiada que se anuncia de longo fôlego, já que um número sempre crescente de emissões deve ser classificado – a um valor de US$ 100 mil ou mais por emissão.

 Erros de avaliação

Nos anos 1990, a Moody’s e a Standard & Poor’s foram acusadas mais de uma vez de concorrência desleal e até de chantagem por emissores que passaram a preferir as pequenas agências. A eles, as duas gigantes atribuíam então notas “não solicitadas”, em geral desfavoráveis. Evidentemente não se tratava de uma sanção, mas de um “serviço público”, permitido pela primeira emenda da Constituição norte-americana, que garante o direito à livre expressão.8 Mas nem por isso o procedimento deixava de significar: “Pague, senão…”.

Segunda crítica: as agências de classificação cometem erros graves, de consequências incalculáveis. Em 1975, às vésperas de declarar moratória, a cidade de Nova York tinha uma nota favorável, por exemplo. Mas foi, sobretudo, por ocasião do desmoronamento do sistema financeiro, em 2008 e 2009, que as agências, que não tinham previsto absolutamente nada, caíram no ridículo: as grandes instituições financeiras ainda se beneficiavam do famoso triplo A apesar de estarem à beira do precipício, a exemplo dos famosos produtos subprime, promovidos à categoria de investimentos seguros, correspondendo ao perfil mais conservador. Mas nem por isso toda essa situação ridícula acabou com as agências. Ao contrário, o episódio tornou-as mais fortes do que nunca! Na verdade, os governos corriam atrás dessas instituições financeiras, pondo sua própria solvibilidade em risco, sob o olhar atento… das agências de classificação.

Pois o verdadeiro poder dessas agências provém da classificação dos Estados. Na verdade, desde 1990 – com a crise da dívida, o minguar da ajuda externa e dos empréstimos bancários, e as receitas neoliberais das organizações internacionais no cardápio –, o essencial do financiamento externo dos Estados se fez nos mercados de renda fixa (em resumo, o endividamento mais do que o imposto). Classificar as diferentes formas de dívida soberana de um país (em moeda nacional, em divisas etc.) equivale a avaliar o país em si (as empresas privadas nele instaladas são alvo de uma classificação separada, em geral ainda mais severa). Uma avaliação desfavorável não significa só o aumento do custo do financiamento. Na hora em que os tomadores de empréstimos privados e públicos se dedicam, em escala mundial, a uma concorrência ferrenha para conseguir e atrair capital, uma nota desfavorável também pode levar ao estrangulamento financeiro de um país do qual o mercado desconfia.

 Sem regulação

Se a leitura de um balanço de uma empresa anglo-saxã pode se prestar a procedimentos codificados e a análises clássicas, a classificação de um país, sobretudo em um contexto de incerteza praticamente total, é recheada de armadilhas e perigos. Somente uns poucos critérios são mensuráveis e quantificáveis, como ganho médio por habitante, aumento do PIB, inflação, dívida externa etc.; mas não a maioria dos critérios, como “boa gestão” da economia, perspectivas de longo prazo, estabilidade política etc. Mas, nesse domínio, as agências não parecem marcadas pelo signo da prudência. Assim, um país pode ter sua nota modificada de um dia para o outro ou passar à posição de “m estado de atenção”, em antecipação a um eventual rebaixamento. Esse tipo de aviso leva com frequência a uma mudança de política, com o objetivo de evitar a sanção financeira do(s) “mercado(s)”.

Extremamente preocupadas com a transparência, quando se trata do alvo das notas que atribuem, as próprias agências continuam, todavia, sendo bastante misteriosas. Seu poder exorbitante e seus abusos deveriam levar a um controle mais rigoroso de suas práticas e à procura de outro tipo de solução. Mas será que tais agências podem realmente ser controladas por outras instituições financeiras além dos governos… que elas vigiam com extrema atenção e bem de perto?

Ibrahim Warde é professor associado na Universidade Tufts (Medford, Massachusetts, EUA). Autor de Propagande impériale & guerre financière contre le terrorisme, Marselha-Paris, Agone – Le Monde Diplomatique, 2007.

Ilustração: Laura Teixeira

1 Le Figaro, Paris, 23 ago. 2011.
2 Benoît Hamon, Tourner la page [Virar a página], Flammarion, Paris, 2011.
3 Site do Nouvel Observateur (nouvelobs.com), 14 jan. 2012.
4 Le Journal du Dimanche, Paris, 15 jan. 2012.
5 Le Journal du Dimanche, 13 nov. 2011.
6 O rebaixamento da nota dos Estados Unidos não teve como consequência uma alta do custo da dívida norte-americana. Para alguns, isso se deve ao fato de que “os mercados” teriam antecipado amplamente esse rebaixamento. Para outros, ser rebaixado em um nível (de AAA para AA+) não poria em discussão a solvibilidade do país.
7 Ao lado das duas gigantes, há também sete anãs: Fitch Ratings (a maior delas), Kroll Bond Rating Agency, A. M. Best Company, Dominion Bond Rating Service, Japan Credit Rating Agency, Egan-Jones Rating Company e Morningstar.
8  Business Week, Nova York, 8 abr. 1996.

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23
Ago15

Os prostíbulos do capitalismo

por Hilton Besnos

 

Este texto foi retirado, com autorização, do BLOG DO EASON

Site: http://easonfn.wordpress.com/2011/01/23/os-prostibulos-do-capitalismo/#comment-702

OS PROSTÍBULOS DO CAPITALISMO

Carta Maior

Emir Sader

Os chamados “paraísos fiscais” são verdadeiros prostíbulos do capitalismo. Nesses territórios se praticam todos os tipos de atividade econômica que seriam ilegais em outros países, captando e limpando somas milionárias de negócios como o comércio de armamentos, do narcotráfico e de outras atividades similares.

Os paraísos fiscais, que devem somar um total entre 60 e 90 no mundo, são micro-territórios ou Estados com legislações fiscais frouxas ou mesmo inexistentes. Uma das suas características comuns é a prática do recebimento ilimitado e anônimo de capitais. São países que comercializam sua soberania oferecendo um regime legislativo e fiscal favorável aos detentores de capitais, qualquer que seja sua origem. Seu funcionamento é simples: vários bancos recebem dinheiro do mundo inteiro e de qualquer pessoa que, com custos bancários baixos, comparados com as médias praticadas por outros bancos em outros lugares.

Eles têm um papel central no universo das finanças negras, isto é, dos capitais originados de atividades ilícitas e criminosas. Máfias e políticos corruptos são frequentadores assíduos desses territórios. Segundo o FMI, a limpeza de dinheiro representa entre 2 e 5% doi PIB mundial e a metade dos fluxos de capitais internacionais transita ou reside nesses Estados, entre 600 bilhões e 1 trilhão e 500 bilhões de dólares sujos circulam por aí.

O numero de paraísos fiscais explodiu com a desregulamentação financeira promovida pelo neoliberalismo. As inovações tecnológicas e a constante invenção de novos produtos financeiros que escapam a qualquer regulamentação aceleraram esse fenômeno.

Trafico de armas, empresas de mercenários, droga, prostituição, corrupção, assaltos, sequestros, contrabando, etc., são as fontes que alimentam esses Estados e a mecanismo de limpeza de dinheiro.

Um ministro da economia da Suíça – dos maiores e mais conhecidos paraísos – declarou em uma visita a Paris, defendendo o segredo bancário, chave para esses fenômenos: “Para nós, este reflete uma concepção filosófica da relação entre o Estado e o indivíduo.” E acrescentou que as contas secretas representam 11% do valor agregado bruto criado na Suíça.
Em um país como Liechtenstein, a taxa máxima de imposto sobre a renda é de 18% e o sobre a fortuna inferior a 0,1%. Ele se especializa em abrigar sociedades holdings e as transferências financeiras ou depósitos bancários.

Uma sociedade sem segredo bancário, em que todos soubessem o que cada um ganha – poderia ser chamado de paraíso. Mas é o contrário, porque se trata de paraísos para os capitais ilegais, originários do narcotráfico, do comercio de armamento, da corrupção.

Existem, são conhecidos, quase ninguém tem coragem de defendê-los, mas eles sobrevivem e se expandem, porque são como os prostíbulos – ilegais, mas indispensáveis para a sobrevivência de instituições falidas, que tem nesses espaços os complementos indispensáveis à sua existência.

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23
Ago15

A crise dos mercados (2008)

por Hilton Besnos

 

Um comentário de quem não é economista, não trabalha no mercado financeiro, não é banqueiro (embora já tenha sido bancário em priscas eras) e menos ainda empresário, a respeito da atual crise mundial de crédito, denominada genericamente de crise dos mercados. Não há outro assunto que ocupe tantos espaços na mídia. Os que ainda não sofreram irão purgar as conseqüências terríveis e virulentas da crise dos mercados, que irão se abater como as sete pragas que contaminaram o Egito. Ainda não se identificou quem faz o papel de Moisés, se a Coca-Cola, a Pepsico, a Monsanto, a Warner, a CNN, a Phillips, a Sony, a TNT, a city de Londres, a Exxon, La Maison Vuiton, a indústria automobilística, o Vale do Silício, a Microsoft, o Carrefour, a American Express, a General Electric, os bancos comerciais, a Apple, a indústria bélica, a máfia, as bolsas asiáticas, os países europeus, o euro, o dólar, a Rua do Muro de Nova Iorque, as transferências e as deslocalizações financeiro-monetárias, os clubes de futebol que funcionam como transnacionais, o Mc Donalds, a Disney, a Mottorola, a Vale, a rede mundial de computadores, o Mastercard ou o Visa, et caterva, ou uma ampla e etérea união de capitais que congrega todos esses entes aos quais nos curvamos e batemos palmas, submissos no papel de consumidores. Mas, sem dúvida, no papel de egípcios estaremos todos nós, de modo indistinto.

Botando os pingos nos iis: os mercados são o resultado visível e concreto das operações efetivadas por megacorporações que dominam a mercancia mundial e que detém poder suficiente para submeter as economias e portanto as políticas da maioria dos países. Para termos uma idéia da concentração e da força econômica de tais empresas, vamos citar, apenas de passagem, a Monsanto.

  • “Em 2005, dez empresas controlavam a metade do mercado mundial de sementes. Apesar de inundados de notícias sobre fusões de empresas mostrando que há cada vez menos empresas controlando maiores percentuais de mercado em todas as áreas, sementes não são a mesma coisa que televisores, automóveis ou cosméticos. São a chave de toda a cadeia alimentar no mundo e o coração da vida camponesa e da agricultura. A quarta parte da população mundial, os camponeses e camponesas do mundo, guardam suas próprias sementes para cultivar a comida de muitos mais.

    Em 2003, as 10 maiores controlavam um terço do mercado mundial. Hoje chegaram a 49 por cento do valor global das vendas desse insumo, segundo o informe Concentração da Indústria Global de Sementes – 2005, do Grupo ETC. Agora a Monsanto é a maior empresa de venda de sementes comerciais, além de já ter o monopólio virtual na venda de sementes transgênicas (88 por cento em nível global). Na última década, a Monsanto engoliu, entre outras empresas, a Advanta Canola Seeds, a Calgene, a Agracetus, a Holden, a Monsoy, a Agroceres, a Asgrow (soja e milho), a Dekalb Genetics e a divisão internacional de sementes da Cargill. Suas vendas de sementes, no último ano, alcançaram mais de 2,8 bilhões de dólares. A Monsanto e a Dupont têm sede nos Estados Unidos.

    Em relação à área global cultivada, as sementes transgênicas da Monsanto cobriram 91 por cento da soja, 97 por cento do milho, 63,5 por cento do algodão e 59 por cento da canola. Em nível global (somando cultivos convencionais e transgênicos), a Monsanto domina 41 por cento do milho e 25 por cento da soja. A aquisição da Seminis permitiu à Monsanto alcançar a distribuição de 3.500 variedades de sementes a produtores de frutas e hortaliças em 150 países. Em setores onde a Monsanto era invisível, agora controla 34 por cento das pimentas, 31 por cento dos feijões, 38 por cento dos pepinos, 29 por cento dos pimentões, 23 por cento dos tomates e 25 por cento das cebolas, além de outras hortaliças. Silvia Ribeiro,pesquisadora do Grupo ETC http://www.etcgroup.org em http://alainet.org/active/10410&lang=es

A partir da década de 70 e capitaneados pela Escola de Chicago, tendo como guru Milton Friedman, os arautos do neoliberalismo implementaram uma nova ordem mundial, com o aporte ideológico e financeiro dos mesmos países que trouxeram a si os papéis de protagonistas em Bretton Woods: Estados Unidos e Inglaterra. A Escola de Chicago contrapunha-se ao keynesianismo, segundo o qual “a mão invisível do mercado” absolutamente não garantia nenhuma estabilidade reguladora na economia mundial, além de não ser eficiente no combate às crises e menos ainda dava qualquer segurança ao que se convencionou chamar de welfare state (estado de bem-estar social), ideologia política que propugnava por políticas sociais garantidoras dos direitos dos cidadãos. Para Keynes o Estado deveria intervir sempre que necessário para garantir uma economia saudável e socialmente compatível com sua própria função.

Os governos Reagan e Tatcher empunharam firmemente a bandeira do neoliberalismo que propunha a “diminuição do estado”, processo que foi acelerado especialmente a partir da década de setenta (século XX) com a crise mundial do petróleo. O neoliberalismo elencava como agenda a privatização de empresas estatais geradoras de lucro (muitas vezes em atividades sensíveis ou estratégicas), um trânsito mais liberado de encargos em relação ao fluxo internacional de capitais, especulativos ou não, a desregulamentação das leis trabalhistas, como meio de forçar o desmonte dos sindicatos, corroer os salários e forçar ajustes mais benéficos ao capital, a queda tarifária e tributária, como meio de desoneração das empresas, e o incentivo à guerra fiscal, pelo qual os estados deveriam ser selecionados para as atividades produtivas na proporção inversa dos tributos a serem pagos pelas empresas, além de outros critérios econômicos e políticos.

Por outro lado, o neoliberalismo foi beneficiado, igualmente, com um denso aporte tecnológico, em especial representado pelo desenvolvimento exponencial da informática e dos sistemas de telecomunicações. Não há praticamente um lugar de interesse ao mundo econômico que não seja rastreado via satélite e as informações nos chegam a todo momento dos mais diversos cantos do mundo. As mega-empresas, assim, podem usar todo um processo de deslocalização e transferir seus capitais a um toque no computador ou a um telefonema, visto que todos os sistemas econômico-financeiros são informatizados, a exemplo das redes bancárias, para usarmos um exemplo mais comum. Da mesma forma como operamos em caixas eletrônicos o fazem as grandes corporações. Só que o celular nunca está temporariamente desligado ou fora de área.

A atual crise dos mercados é uma crise de crédito. Emprestou-se dinheiro a quem não podia pagar. Depois venderam-se os títulos que não seriam pagos, e que foram comprados. Por outro lado, especulou-se na bolsa sem um lastro de liquidez possível.  Dito assim parece ser simples. Na verdade é. Quando você vai viajar de carro, deve fazer uma revisão no veículo antes da viagem. Se ele tiver algum problema, resolva-o e só depois pegue a estrada.  Simples assim. No caso o véículo teve problemas longe de tudo, mas o proprietário já sabia que iria dar problemas. Daí se conclui que, como não estamos lidando com amadores, muitos devem estar lucrando, mas, sem dúvidas, muitos mais estão pagando esses lucros adicionais.

Embora haja um razoável esforço midiático para aproximar metaforicamente mercados e pessoas comuns através da linguagem, não podemos nos enganar com expressões como “mercados nervosos”, “os mercados estão estressados”, “os mercados estão flutuando”, os “humores do mercado” ou qualquer outra preciosidade semelhante: se há algo que é absolutamente inumano são os mercados. Aos mercados só interessa o lucro, especialmente dentro de uma ideologia neo-liberal.  Portanto não tenhamos ilusões. Capitais tem de vir de alguma parte; de onde eles venham, serão acolhidos. HILTON BESNOS

 

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21
Ago15

Geração Y

por Hilton Besnos

Geração Y muda estratégia no mercado de trabalho, by FinancialWeb, publicado  em 04/01/2010

“Os dados apontam para uma mudança importante de cenário. Se antes as empresas se preocupavam em buscar bons profissionais no mercado, hoje a atenção está voltada para a identificação de talentos e desenvolvimento de pessoas na própria equipe”, analisou Sérgio Averbach, presidente da Korn/Ferry para a América do Sul.

De acordo com os CEOs entrevistados, entre os principais motivos para este novo foco está a chegada da geração Y, pessoas que nasceram após 1980, ao mercado de trabalho. Esses profissionais são responsáveis por mudanças mais frequentes e profundas nas relações com as empresas. Para 16% dos participantes da pesquisa, esse grupo é responsável pelo aumento da distância entre indivíduos e organização, por conta de uma ligação menor com o trabalho. Já 10% dos entrevistados afirmam que esse tipo de colaborador apresenta mais equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

Neste cenário, a necessidade de compreender a diferença entre engajamento e lealdade torna-se crítica para as empresas. Para Averbach, colaboradores mais antigos podem ser vistos como mais leais e menos engajados em mudanças ou em esforços de transformação. O oposto acontece com os jovens da geração Y. “A chave está em entender as diferenças e investir na implementação de programas de desenvolvimento de carreiras que enderecem claramente as especificidades de cada perfil e equipe, sempre de olho na retenção dos principais talentos – e com atenção especial aos potenciais”, afirmou. ” 

Minha Consulta ao site referido foi feita em 18/11/2010, às 20h15min. Fonte internet: http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=64062

 

E a geração Y? O que é e a que vem? Pelo que me consta, é o retrato acabado do pós-moderno. Não pensam em carreiras prolongadas, tendo uma noção mais refinada do que seja o tempo posto no trabalho e o exercido no lazer, misturando trabalho e prazeres pessoais. Uma outra característica é a intensa criatividade e não ter medo de propor novas alternativas dentro de um quadro de estabilidade que muitas vezes deixa passar novas chances de melhor gerenciamento e possibilidades de estabelecer negócios.

Há um certo desconforto que, em princípio é entendido como geracional, quando quadros mais antigos se vêem ou se acham confrontados com jovens talentos que não possuem uma história dentro de uma organização formal. Penso que não se trata somente de um choque geracional; há mais do que isso. Ontem à noite, assistindo a Globo, vem o Sardenberg, com seus indefectíveis gráficos e coloca uma pesquisa (atenção para a expressão mágica, senhores e senhoras) segundo a qual o salário vem em quinto lugar na preferência do povo da Geração Y. Desconfio que não, mas os itens anteriores se referem à satisfação pessoal, ao sentir-se bem e, se explorarmos melhor, diz mais respeito a conferir um significado e sentido diferentes em relação a atividade produtiva, não dentro de uma noção de construção linear de uma carreira abrir aspas bem sucedida fechar aspas, cujo ápice seria o ansiado trinomio segurança –  recompensação financeira – posto de gerência.  Claro que há tensões entre os que construíram uma carreira, chamados de geração X e um jovem semi-novato que já ingressa na empresa dentro de uma posição de maior prestígio e visibilidade.  Os da geração X se sentem no mínimo injustiçados e por aí vai. Essa seria uma óbvia questão de desajustes entre os que tendem à construir uma carreira, e em razão da mesma, pleiteiam ascenção profissional e se vêem surpreendidos quando alguém jovem assume tais posições e, óbvio,  subordinam os primeiros. 

Não é uma situação fácil ou agradável de ser encarada, podendo gerar desinteresse por parte da geração X em relação ao próprio trabalho, boicotes mais ou menos graves, mas normalmente dispersos, uma crise institucional na empresa ou o afastamento de pessoas que se consideravam, até a ascenção da geração Y, intocáveis. Mais do que discursos, a geração Y carrega consigo atualização profissional, cursos universitários e uma especial predileção para um aprendizado extensivo. Não morrerão pela empresa e quando se aposentarem, não se sentirão mortos-vivos, duentes vagando por aí à espera da morte, nem aporrinharão à si mesmos e aos demais com seus achaques. A geração Y não fará isso, pelo menos é o que entendo, porque não erigiram o trabalho como valor máximo e virtuoso em suas vidas; tendo maior formação cultural, entendem melhor as relações produtivas e o mundo e por isso não sentirão tanto as angústias típicas de quem, por exemplo, se aposenta e não consegue imaginar outra coisa para fazer do que cumprir a rotina forçosa a que se habituou por mais de três ou quatro décadas.

A geração Y igualmente se difere da geração X pela múltipla carta de interesses que evoca à si própria. Vivendo em um mundo simbólico, tecnológico e mutante, não busca a fixidez como um dos seus princípios de atividade produtiva.  Para quem leu Bauman (1) a geração Y é a decorrência lógica de um mundo pontilhista, baseado no consumismo e no descarte, no qual a linearidade é substituída facilmente pela própria (re)construção identitária. Para quem leu De Masi (2) a atividade produtiva mistura-se com a informação midiática, o prazer, o jogo.  Segundo Bauman, a geração Y faz parte de uma nova classe de produção: a dos consumidores em contraste com a dos produtores, com características bastante distantes entre si. Para De Masi, cada vez mais se afirma o tele-trabalho, baseado na informalidade e em novos padrões de produtividade. Para ambos, se aprofundam os dilemas éticos e produtivos quando se pensa em uma sociedade na qual a imagem, a comunicação e as redes de cooperação cada vez mais estendem suas influências. Para Castells (3) vivemos um mundo em que a tecnologia da informática e das comunicações trouxe uma nova forma de as sociedades verem a si mesmas e as relações entre trabalho e cultura. 

A geração Y navega nos mares da expansão das redes sociais, da abertura da sociedade do conhecimento, da sinergia do mundo simbólico e, portanto, de um tipo de trabalho que mistura o intelectual com o prazer, com a entrega cada vez maior ao self learning, no qual as possibilidades de aprendizagem absolutamente não se esgotam no mundo catedrático. É ir além do beber da fonte educacional strictu sensu. Tais trabalhadores, assim,  tem uma visão fluida da realidade, bem como uma tendência a uma busca por níveis de educação sequenciados e que proporcionem uma visão mais criticizada da  vida eonomica, cultural e social. Embates continuam existindo, exigências produtivas cada vez mais tendem às vertentes simbólicas do que mecânicas. Somos parte de uma rede e o trabalho alienado e alienante não faz parte dos desejos mais caros de tal geração.  Dufour (4) entende que vivemos uma época na qual os grandes discursos se perderam, com o que, neste ponto, concorda Touraine, o que faz com que o individualismo exacerbado seja cada vez mais valorizado. Voltando a Bauman, em um de seus textos há uma frase que impressiona pela sua clareza fria e articulada: “No mundo do consumo, a solidariedade é o primeiro valor a ser perdido”. Uma crítica? Mais do que isso, para o bem ou para o mal, uma constatação aguda da realidade que o mundo propõe. Se não há mais espaço para a fidelidade pessoal, se há um intercambiar incessante e uma (re)criação identitária que beira a obcessão, menos espaço haverá, no que tange à fidelidade, às empresas.

Sabendo de antemão que empresas particulares tem uma baixa capacidade de proporcionar uma construção de projetos de longo prao (o que não acontecia com a sociedade dos produtores da geração X), cabe à geração Y explorar os seus nichos que se baseiam na multiplicação dos recursos tecnológicos e, portanto, nas multitarefas e no apreço a uma qualidade de vida que não passe, necessariamente, por abdicar de seus valores em razão de promessas vagas de carreiras e de postos de maior visibilidade no mercado. Assim, acumula experiências e forma um capital social que não fica circunscrito especificamente a um determinado sonho. Como um bom financista, percebem que um valor posto para investimento corre menores riscos se for pulverizado. A informação tem a cara da geração Y.

Por outro lado, a aproximação geracional é bem-vinda, a partir do fato de que a experiência  não se dá apenas através da boa-vontade e da carta de serviços oferecidos pelas I.E.S (5); é necessário mais do que isso: a autorização de saberes acumulados e a vivência também são importantes a partir do momento em que é preciso aprender, mesmo como self learning, a refrear a impulsividade e dar uma melhor orientação ao complexo que amalgama a criatividade. É essencial, no processo produtivo, que haja um equilíbrio entre a experiência e o saber institucionalizado, entre a comunicação e a informação fluida do dia-a-dia, entre as técnicas operatórias de marketing e o simples e complexo ato de matutar, entre o arriscar-se e a prudência. Há, portanto, como em tudo que envolve a aprendizagem, seja na escola ou na vida, a necessidade de trocar com o outro. A arrogância da perda de solidariedade, já denunciada por Bauman tem mais do que o prenúncio do aviso: tem a sabedoria do entendimento de que não basta apenas o que formalmente se estabelece, mas que o caráter continua sendo um ponto de indiscutível avanço em toda e qualquer relação, entre elas a que ocorre no meio produtivo.

Por que postar sobre a geração Y? Por que essa reflexão? Porque me dou conta de que valores mudam. Há muitos sinais de que vivemos imersos em um mundo no qual interagem intensamente as gerações Y e X, e que suas posturas e comportamentos realmente diferem. Mas isso é assunto para um próximo post. 

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Neoliberalismo: interpretando algumas questões

1 – O que é o neoliberalismo?

É uma teoria na qual a economia serve de parâmetro às atividades humanas, pretendendo dar-lhe uma ética com base em uma filosofia própria. Alicerça-se no mercado que, por seu turno através de sua auto-regulação traria a justiça social nas relações humanas. Tal revelou-se distorcido em razão de que o mercado absolutamente nada tem a ver com parâmetros de justiça ou injustiça social.

2 – Em que consiste o programa de ajustes para a América Latina?

Liberdade de circulação dos capitais, bens e serviços. Os capitais são especulativos, não produtivos. Liberdade de comércio significa termos vantajosos para as transssnacionais que pertencem, em sua maioria aos Estados Unidos.

Estabelecimento de sistemas de pressão econômica contra os mercados nacionais; estabelecimento de privilégios às empresas detentoras do capital através de uma relação promíscua com o estado-nação.

Erosão das redes de segurança concernentes à face social do estado (declínio progresssivo do welfare state) e incremento aos processos de privatização. Menor peso às organizações de trabalhadores, sindicatos, etc. Transferências de capitais através das infovias.

3 – Quais são as raízes históricas do neoliberalismo?

As mesmas derivam-se de um mix de fatores políticos, culturais e conjunturais, em movimentos havidos em áreas de política macroeconômica. Os fatores arrolados são:

o Renovação da mentalidade conservadora que surgiu como um contraponto à manifestações e fatos de cunho cultural e políticos que abalaram estruturas conservadoras, especialmente nas décadas de 60 e 70 nos países desenvolvidos, mormente nos Estados Unidos. Alguns deles seriam a liberação sexual através da pílula, as mudanças de costumes, a guerra EUA – Vietnane, a ascenção das minorias discriminadas socialmente, como os negros, as mulheres, os homossexuais, lésbicas, etc. Os governos representativos do conservadorismo foram os de Reagan, nos EUA, M. Tatcher na Inglaterra e H. Köhl na Alemanha;

o O desgaste do estado de bem estar social. Os conservadores entenderam que as redes de proteção social (previdência, saúde, seguro desemprego, etc) oneravam demais os estados-nações e que tais custas serviam unicamente para manter uma máquina estatal ociosa e pesada, com uma burocracia cara e influente. Os demais cidadãos não deveriam arcar com tais ônus, com tais “prejuízos sociais” causados pelos párias da sociedade (no sentido de Bauman). Dentro do princípio capitalista os pobres eram pobres como um exercício de opção social, preferindo serem assistidos socialmente a trabalhar.

o Transformação industrial que implicou no avanço tecnológico aplicado às empresas, em que os processos de automação e robotização diminuíram a participação dos trabalhadores nos custos e nas responsabilidades sociais. A desregulamentação dos mercados cada vez mais proporcionaram o esvaziamento dos sindicatos e a deslocalização das atividades produtivas.

o Ascenção do capital especulativo: com base em facilidades técnicas e na liberação via desregulamentação do fluxo dos capital, há uma migração de dinheiro superior a dois trilhões de dólares/dia. Tal capital é meramente especulativo e não aplicado em atividades produtivas, ou seja, não há uma geração de empregos compatível com tal aplicação de capital, mas simplesmente o acúmulo de mais capital. O capital não tem qualquer preocupação com níveis de empregabilidade ou mesmo com estabilidades dos estados-nações, pois tem força suficiente para predar as economias desses países.

o Ascenção de uma nova classe dirigente, que perfaz análises de instrumentos simbólicos (especialmente nas políticas de macro-econoomia e mercados financeiros), não raras vezes contando com informações privilegiadas, tentando antecipar terrenos ou nichos de mercado onde possam as empresas obterem mais lucro real. Tais profissionais são eminentemente cosmopolitas, trabalham em rede e exercem atividades de consultoria em diversas áreas estratégicas (finanças, criação, publicidade, mídia, tecnologias diversas, engenharias de sistemas, etc). Tal classe dirigente é uma elite que fundamenta os processos de fundo da globalização.

o A queda do marxismo real que, para os conservadores significou a ruína do socialismo, maior inimigo do capitalismo.

o O domínio econômico e financeiro das multinacionais que solapam o poder dos estados-nação graças a sua concentração de capital e pela possibilidade de interferência na formatação política desses mesmos estados.

4 – Quem são e o que argumentam os ideólogos do neoliberalismo?

Friedrich Hayeck e Milton Friedman. Argumentam que o mercado é uma instituição universal que, em sua melhor forma é perfeito, no sentido de opoortunizar a todos liberdade de opções. Isso, à evidência não é uma verdade mas, de toda forma, é o que apregoam e fundamenta o pensamento neoliberal.

5 – Comente algumas conseqüências do neoliberalismo.

A dispersão do welfare state trouxe muitas conseqüências, entre as quais a incapacidade de gerenciamento de uma parcela da sociedade que, por motivos vários, deixou o mercado de trabalho. Ora, a teoria neoliberalista parte do princípio da privatização dos papéis que anteriormente eram da competência do estado-nação. Isso significou que, afastado o estado, essa parcela da população desempregada passou a gerir por conta própria sua incapacidade financeira de auto-sustentação. Em outros termos, cresceu a miserabilização de enormes estamentos sociais. Por outro lado, houve, em razão disso uma bipolaridade cruel, representada por aqueles que tem capacidade de participar de uma sociedade altamente voltada para o individualismo endêmico e o consumismo e por outra, representada por aqueles que cada vez mais vêem-se privados de condições reais para a volta à atividade produtiva, tornando-se párias em relação àqueles primeiros. E, pior de tudo, as sociedades não sabem o que fazer com os párias, a não ser criminalizá-los e cada vez mais vê-los como perigosos e estranhos.

Ser estranho significa ser diferente, e os imensos movimentos migratórios dos párias sempre são acompanhados por uma ideologia dominante que busca sua exclusão social. A questão é que não é possível uma lógica simples de coooptação dos diferentes pois eles mesmos contrapõem sua ideologia e seus modos de vida, que são fundo para o brilho dos socialmente ascendentes, dos que podem deslocalizar-se e são recebidos com as honras e glórias devidas a quem detém o capital. Ser pária e não ser uma “reserva de mão-de-obra” é uma das conseqüências do neoliberalismo., gestado dentro de desejos sempre irrealizáveis mesmo por quem detenha realmente oportunidades de acessar o mundo globalizado.

6 – Dar um parecer sobre neoliberalismo.

O neoliberalismo é uma ideologia que busca manter os mercados em permanente pulsação, em evidente busca pelo lucro, e que dá fundamento ao capitalismo. Em nossa opinião, temos de pensar o neoliberalismo em termos de práxis, no mínimo configurá-lo como uma ideologia que é justificadora. Aqui deu-se uma peculiaridade, na qual o mercado necessitava justificar-se pela produção da injustiça social que gerava. Do ponto de vista meramente voltado para a estratégia econômica de alguns em detrimento de outros (esses a maioria) justifica-se o neoliberalismo, como justifica-se qualquer outra ideologia.

A questão não é econômica, é de fundo social. A produção e o mantenimento dos quadros de miséria no mundo é uma responsabilidade que evidentemente não pode ser reportada ao neoliberalismo, porque é-lhe anterior. No entanto, a ideologia neoliberal dá sustentabilidade ao continuum dessa miséria e de seu crescimento. Isso ocorre porque não existe qualquer elemento que não seja absolutamente voltado para uma praxis que desconstitui a trajetória humana. Uma vez fixado o objetivo são traçadas estratégias no sentido de alcançá-lo. Contudo tais estratégias poderão trazer situações nas quais o deslocamento dos capitais tragam o risco de uma pobreza endêmica, o resultado de uma terra arrasada. Pois bem, a ideologia neoliberal não se preocupa nem se ocupa com isso. Em suma, ela privilegia o capital, independentemente de qualquer outra adequação às realidades sociais.

O neoliberalismo está vinculado ao neoconservadorismo, que procura trazer uma complementação ideológica importante àquele braço econômico da fusão do primeiro ao segundo, que denomina-se de globalização. Ao neoconservadorismo cabe ressaltar alguns valores que contrapõem-se a solidariedade, ao comunitário, ao interesse público. Contrariamente, àquele aderem o individualismo exacerbado, a indiferença social e o caráter privatista e privatizante, igualmente, aqui, dos espaços públicos.

Tais valores ou desvalores são observados em práticas onde radica a mercancia e a atividade expeculativa. Atualmente um dos interesses mais agudos do neoliberalismo é forjar uma instância na qual haja um convencimento de que o neoconservadorismo está correto ao expor os párias da sociedade ao mesmo tempo em que procura cada vez mais dar um caráter privatizante às necessidades humanas.

Privatizar, aqui, não significa necessariamente tão-só abstrair da esfera pública mas, especialmente desregulamentar, ou seja, criar jogos nos quais os jogadores não saibam as regras mas que sejam impelidos ao mesmo ou, ainda, que as regras do jogo sejam marcos ilusórios, modificáveis a cada nova expectativa do mercado, ou, em outras palavras às possibilidades de obtenção de lucros cada vez maiores.

O neoliberalismo é pois a ideologia que saúda a passagem da modernidade para a pós-modernidade e que se configura em um centro de referência econômica na qual a descentralização e o espetáculo do consumo são regentes supremos em face do descompromisso com qualquer instância que não seja a abstração jogada e não raro perdida pela maioria das pessoas, que vêem desfazer-se seus sonhos de vida e sua capacidade de auto-administração sustentável.

7 – Que relações podem ser estabelecidas entre o neoliberalismo e educação, tanto no sentido amplo (toda a sociedade) quanto restrito (escola/universidade)?

Uma das pontas do neoliberalismo e vertente lógica do mesmo é o neoconservadorismo. Contudo, enganam-se os que pensam que ser neoconservador é buscar trazer do fundo para o contraste todos os valores conservadores. Não, e justamente aí vem o sentido de neo, ou seja, apenas algumas dessas características são trazidas para o contraste: o egoísmo, o individualismo, o pensar em si próprio, a não identificação e o descompromisso, seja político, seja social. Outros estamentos como ética, por exemplo, não são vistos com bons olhos pelos neoconservadores, pois não condizem com uma sociedade apoiada no deus mercado.

Em conseqüência temos um apartheid social que se reproduz no campo do conhecimento. Ocorre então que a denúncia marxista no sentido de haverem dois tipos básicos de educação, um para as classes dominantes e que teria um caráter mais e uma educação mais diretiva e mais restritiva para os filhos das classes dominadas é tristemente atual. A primeira teria uma ênfase na capacidade de deslocamento e de criatividade, enquanto à segunda adeririam padrões mais voltados para a obediência e para a disciplina. Em suma, nada que Weber não tenha já explicitado em termos de pedagogia do cultivo (associada às classes socialmente hegemônicas) e especializada (associada às classes trabalhadoras e economicamente hiposuficientes).

Ora, a questão ideológica é o motor em tais colocações sociais, no sentido de mantenimento dos padrões que interessam às classes hegemônicas. Por isso alguns “sensos comuns” são sequer discutidos e perpassam por todas as classes sociais, mas são geradas sempre nas instâncias de domínio. Na verdade tais “obviedades” igualmente irrigam os sistemas escolares formais, que não dissociam tais ideologia de sua práxis. Assim sendo, são instrumentos eficazes na continuidade dos pensamento associados as classes dominantes.

Um exemplo de tais obviedades seria uma resposta padrão observada em alunos de classes populares: ao dizerem porque vem à escola, não é nada incomum dizerem que vem a escola “ser alguém”. Nesse sentido, o “ser alguém” está associado à condição de ascenção econômica e social, e não a verdadeiramente constituir-se como uma pessoa dentro de um processo social e histórico. Assim, a representação da escola muitas vezes não está devidamente percebida como um canal para o conhecimento, mas uma chave de acesso à melhores condições econômicas. Dentro de tal lógica, ser melhor, ser alguém é ter melhores condições financeiras. Esse papel de representação da escola, contudo, embora tenha sido objeto já de espancamento por muitos dos que trabalham diuturnamente em tais agências, não abandona o imaginário popular.

Por outro lado, as origens das escolas públicas realmente buscavam o conservadorismo social e a preparação para a mão-de-obra ausente de criticidade. Em outros termos, o neoliberalismo, ao ignorar as situações reais das pessoas, tem interesse em preservar em termos escolares uma nova ilusão, que é a do sujeito epistemológico puro, que pode, sim, ser comparada ao mercado puro. Da mesma forma como o mercado proporcionaria condições iguais a sujeitos iguais, e que os diferenciais na vida seriam únicamente creditados à ação ou inação das pessoas, igualmente o sujeito epistemológico é uma visão purista e mistificada, a partir da qual se elegeram duas vertentes importantíssimas na configuração das escolas formais: (a) a noção de que se há um sujeito que aprende ( e ligado à episteme, conhecimento), os outros sujeitos deverão aprender utilizando basicamente os mesmos padrões-referenciais, não distinguindo individualidades, e (b) o sujeito epistêmico ajudou sim a construir os cortes lógicos das diversas disciplinas, que o tinham como referência fulcral no procedimento do ensinar.

Quer-se com isso dizer que o pensamento neoliberal tem sim a ver com a configuração do quefazer escolar; outro ponto importante de ser abordado é a questão de que o ideário capitalista acompanha sim o estudante, bastando, para isso vermos como uma boa parte dos mesmos opera motivado pelos critérios de avaliação, modelando de certa forma seu comportamento (como sugeriu fortemente Skinner) em razão não do conhecimento, mas de tais critérios avaliativos. Estuda-se porque quer-se a nota, a aprovação. E esse comportamento é absolutamente capitalista e neoliberal: fazemos algo porque queremos que esse algo, no mínimo, oportunize lucro. Evidentemente que no caso do ensino ocorre uma inversão: a avaliação (na maior das vezes excludente e classificatória) passa a reger o comportamento do aluno, e não o conhecimento.

Há outras vertentes que podem ser exploradas, mas cremos que não devemos nos alongar mais em tais possibilidades.

30 de maio de 2004-05-30. HILTON BESNOS

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FONTE FORUM REVISTA
http://revistaforum.com.br/blog/2013/12/sonho-americano-conheca-10-fatos-chocantes-sobre-os-eua/
 
13/12/2013 5:18 pm
Sonho americano? Conheça 10 fatos chocantes sobre os EUA
 
Maior população prisional do mundo, pobreza infantil acima dos 22%, nenhum subsídio de maternidade, graves carências no acesso à saúde… bem-vindos ao “paraíso americano”

Por Pragmatismo Político

(Imagem: Divulgação)

Os EUA costumam se revelar ao mundo como os grandes defensores das liberdades, como a nação com a melhor qualidade de vida do planeta e que nada é melhor do que o “american way of life” (o modo de vida americano). A realidade, no entanto, é outra. Os EUA também têm telhado de vidro como a maioria dos países, a diferença é que as informações são constantemente camufladas. Confira abaixo 10 fatos pouco abordados pela mídia ocidental.

1. Maior população prisional do mundo

Elevando-se desde os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controle social: à medida que o negócio das prisões privadas alastra-se como uma gangrena, uma nova categoria de milionários consolida seu poder político. Os donos destas carcerárias são também, na prática, donos de escravos, que trabalham nas fábricas do interior das prisões por salários inferiores a 50 cents por hora. Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar chicletes. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres, mas, sobretudo, os negros, que representando apenas 13% da população norte-americana, compõem 40% da população prisional do país.

2. 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.

Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças norte-americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade econômica para satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.

3. Entre 1890 e 2012, os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.

O número de países nos quais os EUA intervieram militarmente é maior do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de oito milhões de mortes causadas pelo país só no século XX. Por trás desta lista, escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA conduzem neste momente mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo.

O mesmo presidente criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, superando de longe George W. Bush.

4. Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.

Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos por cada empresa, é prática corrente que as mulheres norte-americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes ou depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia.

5. 125 norte-americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de plano de saúde.

Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de norte-americanos não têm), então há boas razões para temes ainda mais a ambulância e os cuidados de saúde que o governo presta. Viagens de ambulância custam em média o equivalente a 1300 reais e a estadia num hospital público mais de 500 reais por noite. Para a maioria das operações cirúrgicas (que chegam à casa das dezenas de milhar), é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e, como o nome indica, terá a oportunidade de se endividar e também a oportunidade de ficar em casa, torcendo para não morrer.

6. Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo norte-americano.

Esqueçam a história do Dia de Ação de Graças com índios e colonos partilhando placidamente o mesmo peru em torno da mesma mesa. A História dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições atuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmos imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados. Em pleno século XX, os EUA iniciaram um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito em idioma que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo oficializar esterilizações forçadas como parte de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e, mais tarde, contra negros e índios.

7. Todos os imigrantes são obrigados a jurarem não ser comunistas para poder viver nos EUA.

Além de ter que jurar não ser um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do Partido Comunista, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada terrorista. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, será automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.

8. O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 mil dólares.

O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente, todos os estudantes têm dívidas astronômicas, que, acrescidas de juros, levarão, em média, 15 anos para pagar. Durante esse período, os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e assim sobreviver. O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel prazer, sem o consentimento ou sequer o conhecimento do devedor. Num dia, deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juros e, no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes norte-americanos cresceu à marca dos 1,5 trilhões de dólares, elevando-se assustadores 500%.

9. Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada dez norte-americanos, há nove armas de fogo.

Não é de se espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior coleção de armas. O que surpreende é a comparação com outras partes do mundo: no restante do planeta, há uma arma para cada dez pessoas. Nos Estados Unidos, nove para cada dez. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, algo em torno de 275 milhões. Esta estatística tende a se elevar, já que os norte-americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.

10. Há mais norte-americanos que acreditam no Diabo do que os que acreditam em Darwin.

A maioria dos norte-americanos são céticos. Pelo menos no que toca à teoria da evolução, já que apenas 40% dos norte-americanos acreditam nela. Já a existência de Satanás e do inferno soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos norte-americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-pré-candidato republicano Rick Santorum, que acusou acadêmicos norte-americanos de serem controlados por Satã.

 

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