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(No caso, 2011)
Fonte: http://www.flickr.com/search/?q=ano+novo&z=e&page=2
Às vezes a passagem do ano vira clínica: iremos, finalmente, procurar o psicólogo, a psiquiatra, faremos o nosso tão temido exame de próstata, faremos uma lipoaspiração, colocaremos botox, malharemos, teremos não mais que dez por cento do nosso peso corporal transformado em gordura, começaremos um regime rigoroso e check ups serão realizados com a regularidade e com a disciplina de um monge. Às vezes a passagem do ano vira esporte, academia, e então faremos pilates, caminhadas, alongamentos, bike, ball alongamento, experimentaremos swásthya yôga, mesmo jump não está descartado. Às vezes o ano novo vira esporte coletivo, e dê-lhe futebol, volei, basquete, et caterva, ou, quem sabe, tenis, natação, alguns esportes mais individuais. De todo modo, uma coisa é definitiva: na passagem do ano pensamos em nós. Desejamos que a vida do outro seja melhor, e, assim como a passagem do tempo, pretendemos que, por algum desígnio isso se concetize. Nunca ficamos tão exotéricos, tão midiáticos quanto na passagem do ano, não importa de que ano, não importa que idade se tenha. Os desejos de final de ano são sempre individuais, com as devidas concessões às famílias de nossos queridos amigos, parentes, e assim por diante.
Poucas vezes, contudo, pensamos que um objetivo sem plano é apenas desejo. Se esquecemos disso, esquecemos mais ainda de que, como disse com enorme sabedoria minha querida e agora aposentada colega e amiga Ana O., o presente é o futuro de ontem. Sempre pensamos para o que virá, mas poucas vezes nos detemos a imaginar o hoje como o projeto de ontem. Dentro do mundo pontilhista, anárquico, consumista em que vivemos, me vem à mente que talvez um bom projeto para o ano seria nos apoiarmos em três eixos: conhecimento, ética e compartilhamento. Nossos projetos individuais poderiam, assim, ser infinitamente melhores se o outro fizesse parte dele. Se víssemos na palavra parceria um pouco mais que uma proparoxítona, já teríamos algo mais interessante para pensar e tentar organizar. Se abandonássemos um pouco, não muito, só um pouco, nossa compulsão a vaidade irrefletida, já teríamos um ponto de partida, uma referencia para melhorarmos não só o nosso mundo, como o mundo de todos. Isso requer bem mais que projetos individuais. Temos de tentar projetar nossas ações como em rede, onde há uma partilha, uma co-participação do outro, daquele mesmo outro que, inúmeras vezes ignoramos ou fingimos ignorar.
Talvez esse seja o principal projeto do ano novo: usar o nosso conhecimento, a nossa ética e o nosso sentido de compartilhamente como se fosse uma bandeira a ser empunhada. Realmente nos importarmos e nos envolvermos com algo maior do que implantar botox ou silicone ou praticar pilates. Não que isso não tenha sua relevãncia, e, afinal, ter uma consciência dentro de um mundo midiaticamente espetaculoso não é tarefa fácil. De todo modo, não vou fugir à regra: um bom ano novo, e, especialmente, um novo ano novo. Não apenas quantitativo, mas qualitativo, portanto, realmente um novo ano novo. HILTON BESNOS
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